Qual o melhor colírio / tratamento para glaucoma?
O glaucoma é uma doença que pode causar perda de visão permanente, e os colírios ajudam a controlar a pressão dentro dos olhos para evitar isso. Existem vários tipos de colírios, e cada um age de uma forma diferente para proteger os olhos.
A escolha do colírio ideal depende do perfil clínico de cada paciente, tolerância e resposta ao tratamento. A adesão correta ao uso dos colírios é fundamental para preservar a visão a longo prazo.
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O que é o glaucoma e quais as formas de se tratar?
Glaucoma é uma doença ocular crônica e progressiva que afeta o nervo óptico, estrutura responsável por conduzir os estímulos visuais da retina até o cérebro. Trata-se de uma neuropatia óptica caracterizada pela perda de fibras nervosas da retina, muitas vezes associada à elevação da pressão intraocular (PIO), embora formas normotensivas também existam. É a principal causa de cegueira irreversível no mundo.

A PIO é o único fator de risco modificável conhecido atualmente, sendo o principal alvo das terapias disponíveis. A pressão intraocular elevada decorre, na maioria das vezes, de um escoamento deficiente do humor aquoso — o fluido claro produzido pelo corpo ciliar. Esse fluido é responsável por nutrir estruturas intraoculares e manter a pressão adequada dentro do olho. Quando há acúmulo, ocorre compressão progressiva do nervo óptico, levando à perda do campo visual.
O tratamento do glaucoma pode ser feito por diferentes vias:
- Terapia medicamentosa tópica (colírios): é a primeira linha de tratamento e tem como objetivo reduzir a PIO por meio da diminuição da produção ou aumento do escoamento do humor aquoso.
- Terapia a laser: procedimentos como a trabeculoplastia seletiva a laser (SLT) podem ser indicados como tratamento inicial ou complementar.
- Tratamento cirúrgico: reservado para casos refratários ao tratamento clínico, ou quando a adesão ao uso de colírios é prejudicada.
A escolha da abordagem ideal depende do tipo de glaucoma, estágio da doença, perfil do paciente e resposta ao tratamento.
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Quais são as medicações (colírios) disponíveis para o tratamento do glaucoma hoje?
Os colírios antiglaucomatosos podem ser classificados de acordo com seu mecanismo de ação. A seguir, listamos as principais classes com suas concentrações e nomes comerciais:
- Análogos de prostaglandinas (PGAs):
- Latanoprosta 0,005% (Xalatan®, Xalacom® – combinação com timolol)
- Travoprosta 0,004% (Travatan Z®)
- Bimatoprosta 0,01% ou 0,03% (Lumigan®)
- Tafluprosta 0,0015% (Saflutan® – livre de conservantes)
- Beta-bloqueadores:
- Timolol 0,25% ou 0,5% (Timoptol®, Timoftol®)
- Betaxolol 0,25% ou 0,5% (Betoptic®)
- Carteolol 1% (Ocupress®)
- Inibidores da anidrase carbônica (IACs):
- Dorzolamida 2% (Trusopt®, Cosopt® – combinação com timolol)
- Brinzolamida 1% (Azopt®, Simbrinza® – combinação com brimonidina)
- Agonistas alfa-2 adrenérgicos:
- Brimonidina 0,15% ou 0,2% (Alphagan®, Combigan® – combinação com timolol)
- Colinérgicos (parasimpaticomiméticos):
- Pilocarpina 1%, 2%, 4% (Isopto Carpine®)
- Novas classes terapêuticas:
- Netarsudil 0,02% (Rhopressa®, Rocklatan® – combinação com latanoprosta)
- Latanoprostaene bunod 0,024% (Vyzulta®)
- Combinações fixas:
- Latanoprosta 0,005% + Timolol 0,5% (Xalacom®)
- Dorzolamida 2% + Timolol 0,5% (Cosopt®)
- Brinzolamida 1% + Brimonidina 0,2% (Simbrinza®)
- Netarsudil 0,02% + Latanoprosta 0,005% (Rocklatan®)
Essas formulações variam conforme o mercado e a disponibilidade local, podendo haver nomes comerciais diferentes para a mesma substância.
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Quais as melhores medicações disponíveis? Existe um melhor colírio para todos os pacientes?
A resposta à pergunta “qual o melhor colírio?” depende de inúmeros fatores. Não existe uma única medicação ideal para todos os pacientes com glaucoma. O tratamento deve ser individualizado, considerando:
- Tipo e estágio do glaucoma
- Pressão intraocular alvo
- Perfil de efeitos adversos
- Comorbidades sistêmicas
- Preferência e capacidade de adesão do paciente
De forma geral, os análogos de prostaglandinas são considerados a primeira escolha por sua alta eficácia e comodidade posológica. Estudos demonstram que podem reduzir a PIO em até 30–35%. Quando há contraindicações ou necessidade de terapia adicional, as demais classes são incorporadas.
Netarsudil tem se mostrado promissor, com bom perfil de segurança e eficácia, principalmente em pacientes que não alcançam a PIO alvo com outros agentes. Latanoprostaene bunod, por sua vez, combina dois mecanismos de ação e pode ser mais eficaz em determinados perfis.
As combinações fixas são especialmente úteis quando o controle pressórico exige múltiplos agentes, pois melhoram a adesão ao tratamento. Elas também reduzem o número de conservantes aplicados à superfície ocular.
O uso de colírios preservativos-free (PF) tem ganhado destaque, especialmente em pacientes com doença da superfície ocular, intolerância ou uso crônico de múltiplas medicações.
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Existem efeitos colaterais dessas medicações? Quais os principais?
Sim, os efeitos adversos variam conforme a classe terapêutica. Abaixo estão os principais:
- Análogos de prostaglandinas:
- Hiperemia conjuntival
- Escurecimento da íris
- Crescimento dos cílios
- Hiperpigmentação periorbital
- Beta-bloqueadores:
- Bradicardia
- Broncoespasmo
- Hipotensão arterial
- Fadiga
- Depressão
- IACs:
- Ardência ocular
- Gosto amargo
- Dor de cabeça
- Náuseas
- Alfa-agonistas:
- Boca seca
- Sonolência
- Hiperemia
- Reações alérgicas
- Colinérgicos:
- Cefaleia
- Miopia transitória
- Dor ocular
- Netarsudil:
- Hiperemia conjuntival intensa
- Depósitos corneanos
- Halos visuais
- Latanoprostaene bunod:
- Irritação ocular
- Hiperemia moderada
Além dos efeitos adversos farmacológicos, destaca-se o impacto dos conservantes, como o BAK (cloreto de benzalcônio), na saúde da superfície ocular. O uso crônico está associado a:
- Inflamação da conjuntiva
- Redução da produção lacrimal
- Maior prevalência de síndrome do olho seco
Estudos apontam que pacientes em uso de múltiplos colírios apresentam pior qualidade de vida ocular e menor adesão ao tratamento.
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Conclusão
O tratamento do glaucoma deve ser individualizado, abrangendo desde a escolha do colírio até a forma de apresentação e número de aplicações diárias. Com o avanço das pesquisas, surgiram novas drogas que oferecem mecanismos complementares de ação, como o netarsudil e o latanoprostaene bunod, que vêm se destacando como opções viáveis e eficazes.
Apesar da eficácia comprovada de diversas medicações, o sucesso terapêutico depende fundamentalmente da adesão do paciente. Por isso, a escolha da medicação deve considerar:
- Tolerabilidade
- Efeitos adversos
- Presença de conservantes
- Complexidade do regime terapêutico
O uso racional das combinações fixas e das formulações preservative-free, associado a um acompanhamento oftalmológico regular, pode melhorar os resultados clínicos e preservar a visão a longo prazo.
Dr. Aron Guimarães é médico oftalmologista especialista pela USP/SP e com mestrado e doutorado pela UNICAMP.
Saiba mais em aronguimaraes.com.br
Perguntas sobre o tema:
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Existe um colírio que cura o glaucoma ou ele apenas serve para controlar a doença?
Os colírios para glaucoma não curam a doença, pois o glaucoma é uma condição crônica e progressiva. Eles servem para controlar a pressão intraocular e, com isso, desacelerar ou interromper a progressão da perda visual.
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Qual o melhor horário do dia para aplicar meu colírio para glaucoma?
Depende do tipo de colírio. Alguns, como os análogos de prostaglandinas, devem ser usados à noite, pois têm melhor eficácia nesse período. Já outros podem ser usados pela manhã ou em intervalos específicos. Siga sempre a orientação do seu oftalmologista.
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Posso usar meu colírio para glaucoma junto com outros colírios, como os para alergia ocular ou lubrificantes?
Sim, mas é necessário um intervalo de pelo menos 5 minutos entre cada colírio para evitar diluição ou interferência na absorção. Sempre informe seu oftalmologista sobre todos os colírios que estiver usando.
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É verdade que alguns colírios para glaucoma mudam a cor dos olhos com o tempo?
Sim, especialmente os análogos de prostaglandinas, como a latanoprosta, podem causar escurecimento gradual da íris, principalmente em olhos claros. Esse efeito é geralmente irreversível.
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Por que meu médico trocou meu colírio se a minha pressão estava controlada?
Isso pode acontecer se houver efeitos colaterais, desconforto ocular, problemas de adesão ao tratamento ou alterações na superfície ocular. O objetivo é sempre equilibrar eficácia e qualidade de vida.
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Usar o colírio por muito tempo pode causar dependência ou diminuir o efeito com o tempo?
Não há risco de dependência, mas em alguns casos o colírio pode perder parte de sua eficácia com o tempo, exigindo ajustes ou associações. Por isso, o acompanhamento regular é fundamental.
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Posso interromper o colírio de glaucoma por alguns dias se estiver viajando ou esquecê-lo?
Não. Mesmo pequenas interrupções podem levar ao aumento da pressão intraocular e risco de progressão do dano ao nervo óptico. Mantenha o uso mesmo em viagens, levando sempre uma quantidade reserva.
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Sinto ardência toda vez que aplico o colírio para glaucoma. Isso é normal?
Algum grau de ardência ou desconforto leve pode ser comum, especialmente nas primeiras aplicações. No entanto, se for persistente ou intenso, o ideal é conversar com seu médico para avaliar a troca por uma fórmula mais tolerável ou sem conservantes.
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Posso usar o mesmo colírio de glaucoma que meu parente usa, já que temos a mesma doença?
Não. A escolha do colírio depende de fatores individuais como tipo de glaucoma, resposta à medicação, histórico médico e efeitos colaterais. Nunca use colírios por conta própria ou sem prescrição.
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Os colírios de glaucoma têm efeitos no corpo todo ou são seguros apenas para os olhos?
Embora aplicados nos olhos, muitos colírios podem causar efeitos sistêmicos, como queda da pressão arterial, fadiga, alteração no ritmo cardíaco ou sintomas respiratórios. Informe seu médico sobre doenças cardíacas, pulmonares ou uso de outros medicamentos.
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Existe diferença entre os colírios com e sem conservantes? Qual o melhor?
Sim. Colírios sem conservantes são preferíveis para quem tem olho seco, usa múltiplos medicamentos ou apresenta intolerância. Porém, costumam ser mais caros e nem sempre estão disponíveis para todas as classes de medicação.
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Qual o tempo ideal entre uma gota e outra quando preciso usar mais de um colírio?
Recomenda-se aguardar pelo menos 5 minutos entre a aplicação de um colírio e outro, para evitar que o segundo enxague o primeiro e comprometa sua eficácia.
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O colírio para glaucoma pode ser usado apenas quando a pressão estiver alta ou precisa ser contínuo?
O tratamento deve ser contínuo, mesmo que a pressão esteja normal, pois isso indica que a medicação está funcionando. Parar pode causar aumento da pressão e danos irreversíveis ao nervo óptico.
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Crianças com glaucoma também precisam usar colírios diariamente como os adultos?
Sim, crianças com glaucoma congênito ou juvenil muitas vezes necessitam de colírios diários. O acompanhamento precisa ser ainda mais rigoroso e ajustado à idade, com supervisão dos pais.
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Qual colírio para glaucoma tem menos efeitos colaterais?
Os análogos de prostaglandinas costumam ter menos efeitos sistêmicos, sendo bem tolerados pela maioria dos pacientes. Porém, cada pessoa reage de forma diferente, e a escolha deve ser individualizada.
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O uso de colírios pode evitar a necessidade de cirurgia no glaucoma?
Sim. Em muitos casos, o uso correto e contínuo dos colírios consegue controlar a pressão intraocular e evitar ou adiar procedimentos cirúrgicos por muitos anos.
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Quem tem glaucoma pode usar lentes de contato junto com os colírios?
Sim, mas com alguns cuidados. O ideal é retirar a lente antes de aplicar o colírio e esperar pelo menos 15 minutos antes de recolocá-la. Isso evita irritações e permite melhor absorção da medicação.
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Existe colírio que combine duas medicações no mesmo frasco para facilitar o uso?
Sim. Existem colírios de combinação fixa que reúnem dois princípios ativos, como latanoprosta com timolol ou dorzolamida com timolol. Eles facilitam a adesão ao tratamento e reduzem a exposição a conservantes.
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Colírios naturais ou receitas caseiras ajudam no tratamento do glaucoma?
Não. Não existe comprovação científica de que produtos naturais reduzam a pressão intraocular de forma eficaz. Alguns até podem ser perigosos. O tratamento deve ser feito com medicamentos prescritos por especialistas.
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É perigoso aplicar mais de uma gota do colírio por vez? Isso aumenta o efeito?
Não aumenta o efeito. O olho só consegue absorver uma gota de cada vez, e o excesso escorre, podendo aumentar os efeitos colaterais. Uma gota por aplicação é suficiente.
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Quais são os colírios mais modernos disponíveis atualmente para o tratamento do glaucoma?
Entre os colírios mais recentes estão o netarsudil (Rhopressa®), que atua sobre a malha trabecular, e o latanoprostaene bunod (Vyzulta®), que combina ação prostaglandínica e óxido nítrico. Ambos oferecem mecanismos de ação inovadores.
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Como saber se o colírio está funcionando corretamente no meu caso?
Somente com o acompanhamento oftalmológico regular, por meio de medidas da pressão intraocular e exames do campo visual e do nervo óptico, é possível saber se o tratamento está sendo eficaz.
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Se esquecer de usar o colírio em um dos olhos, devo aplicar depois em dobro para compensar?
Não. Nunca dobre a dose para compensar esquecimentos. Aplique normalmente na próxima dose agendada e tente estabelecer uma rotina para não esquecer novamente.
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Existe colírio para glaucoma disponível pelo SUS ou em farmácias populares?
Sim. Diversos colírios como timolol, dorzolamida e latanoprosta estão disponíveis pelo SUS, mediante prescrição médica. Informe-se na unidade de saúde mais próxima sobre a dispensação gratuita.
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O glaucoma tem cura se for tratado desde o início com colírios?
Infelizmente não tem cura, mesmo com diagnóstico precoce. Mas quando o tratamento com colírios é iniciado no início da doença e seguido corretamente, é possível preservar a visão por toda a vida sem maiores perdas.
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