Neurite óptica: O que é? Pode cegar?
Você já sentiu uma dor nos olhos ao se movimentar e, de repente, começou a enxergar embaçado ou com manchas escuras no campo de visão? Esses podem ser os primeiros sinais de uma condição chamada neurite óptica, uma inflamação do nervo que conecta os olhos ao cérebro. Apesar de parecer inofensiva no início, ela pode indicar doenças autoimunes mais graves, como a esclerose múltipla ou a neuromielite óptica — e, se não tratada a tempo, pode até levar à cegueira permanente.
Neste artigo, explicamos em detalhes o que é a neurite óptica, quais são seus sintomas e causas, como ocorre o diagnóstico e, principalmente, quais são os tratamentos mais eficazes com base nas descobertas científicas mais recentes. Também abordamos as diferenças entre os tipos típicos e atípicos da doença, e o que fazer para reduzir o risco de sequelas graves na visão.
O texto foi criado para ajudar pacientes, familiares e interessados a entender melhor esse quadro clínico que exige diagnóstico precoce e tratamento urgente. Além disso, discutimos se a neurite óptica pode voltar, como afeta a rotina do paciente e o que esperar do acompanhamento médico após o episódio.
Se você ou alguém próximo já teve perda de visão súbita, esse conteúdo é leitura indispensável. Descubra como agir rapidamente pode fazer toda a diferença para preservar a visão e evitar complicações neurológicas futuras. A sua saúde visual agradece.
Leia agora e entenda por que a neurite óptica precisa de atenção imediata.
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O que é a neurite óptica? Quais os sintomas e causas?
A neurite óptica é uma inflamação do nervo óptico, estrutura que conecta o olho ao cérebro e é responsável pela transmissão das informações visuais. Essa condição acomete principalmente adultos jovens, entre 20 e 40 anos, sendo mais frequente em mulheres.
O sintoma mais comum é a perda visual subitamente em um dos olhos, que pode ser parcial ou total, acompanhada de dor, especialmente ao movimentar os olhos. Outros sintomas incluem visão embaçada, perda de cores (discromatopsia), escotomas (manchas escuras no campo visual) e sensação de “flash” ao movimentar os olhos (fenômeno de Uhthoff).
As causas podem ser variadas, mas as mais comuns estão ligadas a doenças desmielinizantes, como a esclerose múltipla, a neuromielite óptica e a doença associada ao anticorpo anti-MOG (MOGAD). Além dessas, infecções, doenças autoimunes (como sarcoidose, lupus), causas paraneoplásicas e inflamatórias também podem estar envolvidas. Raramente, a neurite óptica pode ser idiopática, sem causa definida.
A distinção entre os tipos de neurite óptica é fundamental, pois o tratamento e o prognóstico variam. A forma “típica”, relacionada à esclerose múltipla, geralmente é unilateral e dolorosa, enquanto as formas “atípicas”, como aquelas associadas à neuromielite óptica ou à doença do anticorpo anti-MOG, costumam ser bilaterais, mais graves e menos responsivas ao tratamento padrão com corticosteroides.
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Qual o tratamento?
O tratamento da neurite óptica visa reduzir a inflamação do nervo e acelerar a recuperação visual. A primeira linha terapêutica é o uso de corticosteroides em altas doses, geralmente metilprednisolona intravenosa (1g/dia por 3 a 5 dias), seguida de taper oral em alguns casos.
Imagem ilustrativa: Paciente recebendo corticóide endovenoso
Nos casos associados à esclerose múltipla, o tratamento com corticosteroides tem efeito principalmente na recuperação mais rápida da visão, sem impacto significativo no desfecho visual final. Por outro lado, em casos de neurite óptica relacionada à neuromielite óptica ou à doença do anticorpo anti-MOG, o tratamento agressivo precoce é crucial para prevenir sequelas visuais permanentes. Nestes casos, pode ser necessário o uso de plasmaférese ou imunoglobulina intravenosa (IVIG), especialmente se a resposta aos corticosteroides for inadequada.
O tratamento de manutenção também difere: em pacientes com esclerose múltipla, inicia-se terapia modificadora de doença (DMTs). Para os casos de neurite óptica por neuromielite óptica ou doença do anticorpo anti-MOG, utiliza-se imunossupressores como azatioprina, rituximabe ou tocilizumabe, com o objetivo de prevenir recidivas, que podem ser devastadoras para a visão.
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Pode causar cegueira ou deixar sequelas?
Sim. Embora muitos pacientes com neurite óptica típica recuperem boa parte da visão, cerca de 30% relatam algum grau de comprometimento visual persistente, como redução da visão noturna, sensibilidade à luz e dificuldade com cores.
Nas formas atípicas, especialmente aquelas associadas à neuromielite óptica e à doença do anticorpo anti-MOG, as chances de sequelas visuais são significativamente maiores. Casos não tratados podem levar à perda visual permanente ou atrofia do nervo óptico. Recorrências também aumentam o risco de cegueira bilateral.
Estudos mostram que, na doença do anticorpo anti-MOG, há alta frequência de inflamação bilateral e edema do disco óptico, o que está associado a piores prognósticos. Já nos casos associados à neuromielite óptica, as lesões costumam ser mais posteriores (próximas ao quiasma óptico) e também se associam a perdas graves e irreversíveis.
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Diagnóstico diferencial e exames essenciais
Para realizar o diagnóstico preciso da neurite óptica, além da avaliação clínica detalhada, são indicados exames de imagem como a ressonância magnética das órbitas com contraste e de crânio. Este exame permite identificar o local de inflamação no nervo óptico e ajuda a diferenciar entre esclerose múltipla, neuromielite óptica e doença do anticorpo anti-MOG.
Exames laboratoriais incluem pesquisa de anticorpos específicos como AQP4-IgG (neuromielite óptica) e MOG-IgG. A punção lombar pode revelar a presença de bandas oligoclonais, indicativas de esclerose múltipla. A tomografia de coerência óptica (OCT) é úptil para avaliar o espessamento ou afinamento das camadas da retina, revelando atrofia óptica.
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A vida após a neurite óptica
Mesmo após a recuperação inicial, muitos pacientes relatam dificuldades visuais sutis. Acompanhamento regular com neurologista e oftalmologista é fundamental para prevenir novos surtos e monitorar a saúde ocular. O suporte psicológico também é importante, pois a perda visual pode impactar a qualidade de vida e gerar ansiedade.
Recomenda-se uma dieta equilibrada, práticas de exercício moderado, evitação do tabaco e controle do estresse como formas de melhorar a resposta imunológica e evitar recaídas. Medicamentos imunossupressores podem ser administrados conforme prescrição, com acompanhamento de exames periódicos.
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Conclusão
A neurite óptica é uma condição oftalmoneurológica que exige atenção imediata. A identificação precoce da causa subjacente é essencial para definir o tratamento correto e evitar sequelas visuais importantes. Para isso, exames como ressonância magnética de órbita e encéfalo, testes sorológicos e punção lombar são cruciais.
O tratamento adequado, com corticosteroides e imunoterapia quando necessário, pode evitar a progressão para a cegueira. Pacientes com histórico de episódios de perda visual devem sempre procurar avaliação especializada para esclarecimento do diagnóstico e prevenção de recidivas.
A mensagem mais importante é: perda visual aguda não deve ser ignorada. O tratamento rápido é a chave para preservar a visão e a qualidade de vida.
Dr. Aron Guimarães é médico oftalmologista especialista pela USP/SP e com mestrado e doutorado pela UNICAMP.
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Perguntas sobre o tema
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O que exatamente é a neurite óptica e por que ela acontece?
A neurite óptica é uma inflamação do nervo óptico, que transmite os sinais visuais do olho até o cérebro. Ela pode ocorrer por reações autoimunes, infecções, doenças inflamatórias ou como manifestação inicial de doenças como a esclerose múltipla e a neuromielite óptica. Em muitos casos, o sistema imunológico ataca erroneamente a bainha de mielina do nervo óptico, gerando dor e perda de visão.
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É verdade que a neurite óptica pode ser o primeiro sinal de esclerose múltipla?
Sim, em cerca de 20% dos casos, a neurite óptica é a primeira manifestação clínica da esclerose múltipla. Quando associada a essa doença, o risco de novos episódios neurológicos aumenta, sendo importante o acompanhamento neurológico especializado.
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Existe risco de a neurite óptica causar cegueira permanente?
Infelizmente, sim. Embora muitos pacientes recuperem parte ou toda a visão após o episódio, alguns casos, principalmente os relacionados à neuromielite óptica ou à doença do anticorpo anti-MOG, podem resultar em perda visual grave e irreversível, especialmente se o tratamento não for iniciado precocemente.
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O que diferencia a neurite óptica da neuropatia óptica ou de outras doenças dos olhos?
A neurite óptica tem origem inflamatória e geralmente afeta adultos jovens, sendo frequentemente acompanhada de dor ocular. Já a neuropatia óptica pode ser causada por isquemia, compressão tumoral, intoxicação ou deficiências nutricionais. O diagnóstico diferencial é feito com base nos sintomas, exames clínicos e de imagem.
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Como é feito o diagnóstico da neurite óptica? É preciso fazer muitos exames?
Sim, o diagnóstico inclui exame oftalmológico completo, testes de acuidade visual e campo visual, tomografia de coerência óptica (OCT), ressonância magnética das órbitas e do cérebro com contraste e exames de sangue para avaliar marcadores autoimunes como os anticorpos AQP4 e MOG.
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A dor no olho é sempre um sintoma da neurite óptica?
A dor ocular, principalmente ao movimentar o olho, é um sintoma bastante comum nos casos típicos de neurite óptica. No entanto, em formas atípicas, como nas associadas à neuromielite óptica, a dor pode estar ausente, o que não exclui o diagnóstico.
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Como é o tratamento e por quanto tempo ele costuma durar?
O tratamento inicial é feito com corticosteroides intravenosos em altas doses por alguns dias, seguidos ou não de corticosteroides orais. Em casos mais graves ou com pouca resposta, pode-se indicar plasmaférese ou imunoglobulina. Já o tratamento de manutenção com imunossupressores pode durar meses ou anos, dependendo da causa.
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A neurite óptica pode voltar a acontecer depois do primeiro episódio?
Sim. Em casos associados a doenças autoimunes como a neuromielite óptica ou a doença do anticorpo anti-MOG, os episódios podem ser recorrentes. Por isso, é fundamental o uso de medicamentos para prevenir novas inflamações.
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Existe algo que eu possa fazer para prevenir a neurite óptica?
Não há uma prevenção garantida para todos os casos, mas manter acompanhamento médico, tratar corretamente as doenças de base e evitar infecções podem ajudar. O uso regular das medicações imunossupressoras também reduz bastante o risco de recaídas.
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Quem já teve neurite óptica pode dirigir ou trabalhar normalmente depois?
Depende da extensão da perda visual. Muitos pacientes retomam suas atividades normalmente após a recuperação da visão. No entanto, caso a acuidade visual não retorne completamente, pode ser necessário adaptar funções e evitar atividades que exijam visão plena.
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Quais são os sinais de alerta para procurar ajuda médica urgente?
Perda visual súbita, dor ao movimentar os olhos, embaçamento persistente, alterações na percepção de cores ou visão dupla são sinais que devem motivar busca imediata por atendimento oftalmológico ou neurológico.
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Crianças ou idosos também podem ter neurite óptica? Ou é uma doença só de adultos jovens?
Embora mais comum em adultos jovens, a neurite óptica também pode ocorrer em crianças, especialmente nos casos relacionados à doença do anticorpo anti-MOG. Idosos raramente apresentam neurite óptica; nesses casos, deve-se investigar causas isquêmicas ou tumorais.
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A neurite óptica é contagiosa? Posso passar para outras pessoas?
Não. A neurite óptica não é uma doença contagiosa. Mesmo quando associada a infecções como vírus, a inflamação do nervo óptico é uma resposta individual do sistema imunológico.
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A alimentação ou o estilo de vida influenciam na gravidade ou na recuperação da neurite óptica?
Apesar de não serem fatores diretos, manter uma alimentação saudável, evitar o tabagismo, controlar o estresse e praticar exercícios moderados ajudam na imunidade e podem melhorar a resposta ao tratamento, além de evitar complicações.
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O que muda no acompanhamento médico após um episódio de neurite óptica?
O paciente passa a ser acompanhado não apenas pelo oftalmologista, mas também por neurologistas, principalmente se houver suspeita de doenças autoimunes como esclerose múltipla ou neuromielite óptica. São feitos exames periódicos, controle imunológico e monitoramento da saúde visual a longo prazo.
REFERÊNCIAS
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