Doença de Best: Entenda o que é, como diagnosticar e tratar essa distrofia macular hereditária
A Doença de Best é uma doença da retina ou distrofia macular hereditária causada por mutações no gene BEST1, afetando a visão central principalmente em crianças e adolescentes. Seus sintomas evoluem lentamente e incluem visão borrada, metamorfopsia e escotoma central.
O diagnóstico é feito por exames de imagem como OCT, eletrooculograma e teste genético. Embora não tenha cura, o acompanhamento regular e as pesquisas em terapia gênica oferecem perspectivas promissoras para o futuro.
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O que é a Doença de Best?
A Doença de Best, ou Distrofia Macular Viteliforme de Best, é uma condição genética que afeta a mácula, área central da retina responsável pela visão de alta resolução. Essa doença integra um grupo conhecido como bestrofinopatias, associadas a mutações no gene BEST1. Esse gene codifica a proteína bestrofina 1, localizada principalmente no epitélio pigmentar da retina (EPR), onde funciona como um canal aniônico ativado por cálcio.
O quadro clínico é tipicamente bilateral e simétrico, com início comum na infância ou adolescência. A doença evolui por estágios bem definidos: estágio pré-viteliforme, viteliforme clássico, pseudohipópio, vitelirruptivo, atrófico e, eventualmente, cicatricial. A progressão pode ser lenta, e muitos pacientes mantêm acuidade visual útil por décadas.
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Fatores de risco e causas genéticas
A principal causa da Doença de Best são mutações dominantes no gene BEST1. Essa herança autossômica dominante implica que filhos de pais afetados têm 50% de chance de herdar a mutação. Apesar disso, a penetrância incompleta e a expressividade variável são características marcantes, o que significa que nem todos os portadores apresentarão sintomas clínicos ou alterações visíveis nos exames.
A bestrofina 1 atua no transporte de íons e na regulação do cálcio intracelular, influenciando diretamente a função do EPR. Alterações em sua estrutura comprometem a remoção de resíduos fotoreceptores, levando ao acúmulo de material lipofuscínico sob a retina e à degeneração da mácula.
Estudos demonstram que há pelo menos 200 mutações no BEST1 associadas a formas distintas de bestrofinopatia, incluindo distrofias maculares do adulto e formas recessivas mais severas. O papel da genética é central tanto no diagnóstico quanto no aconselhamento familiar.

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Sintomas mais comuns
Nos estágios iniciais, muitos pacientes podem ser assintomáticos. Quando presentes, os sintomas incluem:
- Visão central embaçada ou distorcida;
- Metamorfopsia (linhas retas parecem onduladas);
- Diminuição da sensibilidade ao contraste;
- Escotoma central (ponto cego no campo de visão);
- Dificuldade com leitura e reconhecimento de rostos.
A acuidade visual pode permanecer relativamente preservada durante anos, especialmente em fases iniciais. Entretanto, à medida que o material subretiniano é absorvido e ocorrem alterações atróficas, há uma tendência à piora da visão. Em alguns casos, complicações como neovascularização de coróide (CNV) podem acelerar a perda visual.
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Como fazer o diagnóstico da Doença de Best?
O diagnóstico da Doença de Best exige uma abordagem multimodal:
- Exame de fundo de olho: permite visualizar lesão típica em forma de gema de ovo;
- Autofluorescência de fundo (FAF): mostra áreas de hiperautofluorescência seguidas por hipoautofluorescência conforme a doença progride;
- Tomografia de Coerência Óptica (OCT): revela acúmulo de material subretiniano com desorganização das camadas retinianas;
- Eletrooculograma (EOG): revela queda da relação luz/escuro (Arden ratio), um achado clássico em BVMD;
- Eletroretinograma (ERG): geralmente normal em formas clássicas;
- Testes genéticos: confirmam a mutação no gene BEST1 e são úteis para triagem familiar.
A OCT, em especial, revolucionou o acompanhamento da Doença de Best, permitindo visualizar com precisão a espessura da retina, a integridade do EPR e a evolução das lesões ao longo do tempo. É também fundamental no diagnóstico diferencial com outras distrofias maculares e degenerações senis.
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Como tratar a Doença de Best?
Apesar de ainda não existir uma cura definitiva, os avanços no diagnóstico precoce e no manejo clínico têm melhorado significativamente a qualidade de vida dos pacientes. As principais estratégias incluem:
- Acompanhamento regular: com exames anuais de OCT, EOG e avaliação da acuidade visual;
- Reabilitação visual: especialmente em fases mais avançadas da doença;
- Tratamento de Membrana Neovascular: com injeções intravítreas de anti-VEGF, como o ranibizumabe ou aflibercepte, nos casos em que ocorre neovascularização;
- Orientações sobre estilo de vida: como cessar o tabagismo e controlar fatores sistêmicos que possam agravar o quadro ocular;
Além disso, o aconselhamento genético é essencial, principalmente para familiares assintomáticos, visto o caráter hereditário da doença.
Avanços em pesquisa e terapias futuras
Estudos em modelos animais e o uso de células-tronco humanas induzidas (iPSCs) derivadas de pacientes têm proporcionado importantes insights sobre a fisiopatologia da Doença de Best. Esses modelos permitiram a reprodução de aspectos-chave da degeneração retiniana, possibilitando o teste de novas drogas e abordagens de terapia gênica.
A terapia gênica, que já demonstrou eficácia em outras distrofias hereditárias como a Amaurose Congênita de Leber, é uma esperança concreta para pacientes com Best. Ensaios clínicos com vetores virais como AAV (adeno-associated virus) estão em fase de desenvolvimento para corrigir mutações no BEST1 e restaurar a função do EPR.
Apesar de ainda em fase experimental, essa abordagem promete transformar o tratamento da doença em um futuro próximo, especialmente para formas precoces ou com evolução agressiva.
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Conclusão
A Doença de Best representa um importante modelo de distrofia macular hereditária, tanto por seu valor clínico quanto científico. Seu diagnóstico exige atenção aos sinais precoces e o uso integrado de exames de imagem e genéticos. Embora o tratamento ainda seja basicamente de suporte, os avanços nas pesquisas genéticas e em terapias moleculares abrem perspectivas otimistas.
Para os pacientes, o mais importante é manter o acompanhamento com especialista em retina, aderir ao monitoramento regular e adotar medidas que preservem a saúde ocular. Profissionais da área devem estar atentos ao diagnóstico diferencial e ao rastreio familiar, otimizando as chances de intervenção precoce e suporte adequado.
Dr. Aron Guimarães é médico oftalmologista especialista pela USP/SP e com mestrado e doutorado pela UNICAMP.
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Perguntas sobre o tema:
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O que é a Doença de Best?
É uma distrofia macular hereditária que afeta a mácula, parte central da retina responsável pela visão de detalhes. É causada por mutações no gene BEST1.
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A Doença de Best tem cura?
Atualmente, não há cura. No entanto, o acompanhamento oftalmológico e novas pesquisas (como terapia gênica) oferecem esperança para o futuro.
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A Doença de Best causa cegueira?
Ela pode comprometer seriamente a visão central, mas geralmente não leva à cegueira total. A visão periférica costuma ser preservada.
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Quais são os primeiros sintomas da Doença de Best?
Visão embaçada, dificuldade para ler, distorção de imagens (metamorfopsia) e escotoma central (mancha escura na visão).
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É uma doença progressiva?
Sim. Ela evolui em estágios, podendo durar anos até alcançar formas mais avançadas.
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Como é feito o diagnóstico?
Por meio de exames oftalmológicos como fundo de olho, tomografia de coerência óptica (OCT), autofluorescência e eletrooculograma (EOG), além de testes genéticos.
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É possível ter a doença sem sintomas?
Sim. Algumas pessoas, mesmo com a mutação genética, podem não apresentar sintomas visíveis.
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A Doença de Best é hereditária?
Sim. É transmitida de forma autossômica dominante — basta um dos pais ser portador para haver 50% de chance de herança genética.
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Existe tratamento para recuperar a visão?
Não há tratamentos para recuperar a visão perdida, mas é possível tratar complicações como neovascularização com medicamentos anti-VEGF.
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É comum em crianças?
Sim. Ela costuma aparecer na infância ou adolescência, embora possa ser diagnosticada em adultos.
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Como saber se tenho a mutação do gene BEST1?
Através de exame genético, que pode ser solicitado por um oftalmologista ou geneticista.
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Como é o acompanhamento da doença?
Inclui consultas oftalmológicas regulares, exames de imagem (OCT) e eletrofisiológicos (EOG), além de apoio psicológico e reabilitação visual, se necessário.
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A doença pode afetar apenas um olho?
É rara a apresentação unilateral. A maioria dos casos é bilateral e simétrica.
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Existe risco de passar a doença para meus filhos?
Sim, se você tiver a mutação no gene BEST1, cada filho tem 50% de chance de herdar.
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Há alguma forma de prevenir a Doença de Best?
Não. Como é uma condição genética, não pode ser prevenida. Mas o diagnóstico precoce ajuda a gerenciar melhor os sintomas.
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É seguro dirigir com Doença de Best?
Depende do grau de comprometimento visual. O médico oftalmologista deve avaliar individualmente.
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Posso trabalhar normalmente com essa doença?
Sim, especialmente nas fases iniciais. Em casos avançados, pode ser necessário readaptação no ambiente de trabalho.
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Existe alguma dieta ou vitamina que ajude?
Não há evidência científica de que dieta ou suplementação possa alterar o curso da doença, mas manter uma dieta equilibrada é sempre benéfico.
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Tabagismo interfere na Doença de Best?
Sim. O cigarro pode agravar doenças da retina. Pacientes devem evitar fumar.
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Há risco de confundir com outras doenças?
Sim. Pode ser confundida com degeneração macular relacionada à idade ou outras distrofias. Por isso, exames específicos são essenciais.
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Quanto tempo leva para a doença avançar?
Varia entre pacientes. Pode permanecer estável por muitos anos ou evoluir de forma lenta e progressiva.
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Crianças devem fazer exames mesmo sem sintomas?
Se houver histórico familiar, sim. O diagnóstico precoce pode evitar complicações e facilitar o acompanhamento.
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Existem centros especializados nessa doença?
Sim. Centros de referência em doenças hereditárias da retina e universidades com especialização em genética ocular podem oferecer suporte completo.
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É possível participar de estudos clínicos?
Sim. Alguns centros realizam pesquisas com novos tratamentos, como terapia gênica. Converse com seu oftalmologista sobre essa possibilidade.
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O que é terapia gênica e como pode ajudar?
É um tratamento experimental que visa corrigir a mutação genética causadora da doença. Embora ainda esteja em estudo, representa uma esperança para o futuro.
Referências
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