Cirurgia Refrativa para Quem Tem Ceratocone. Não Faça!
O ceratocone é uma doença que afina e deforma a córnea, tornando a cirurgia refrativa a laser extremamente perigosa para esses pacientes. Procedimentos como LASIK e PRK podem agravar a condição e levar à perda visual severa. Existem alternativas seguras, como lentes especiais, implantes intracorneanos e lentes intraoculares, além do crosslinking para estabilizar a doença.
A avaliação individual por um especialista é essencial para garantir segurança e eficácia no tratamento.
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O que é o Ceratocone?
O ceratocone é uma doença progressiva da córnea, caracterizada pelo afinamento e deformidade dessa estrutura ocular. Em vez de manter seu formato naturalmente esferoidal, a córnea se projeta para frente, assumindo um formato cônico. Essa alteração compromete a visão, pois gera astigmatismo irregular e miopia, que dificultam a correção com óculos convencionais. A doença costuma se manifestar na adolescência e pode evoluir por vários anos até se estabilizar.

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O que é a Cirurgia Refrativa?
A cirurgia refrativa é um procedimento que utiliza laser para remodelar a superfície da córnea, com o objetivo de corrigir erros de refração, como miopia, hipermetropia e astigmatismo. Os tipos mais comuns incluem LASIK, PRK e SMILE. Embora muito eficaz para pacientes com córneas saudáveis, esses procedimentos envolvem a remoção de tecido corneano, o que pode ser perigoso para quem tem qualquer grau de ceratocone.
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Quem tem Ceratocone pode fazer Cirurgia Refrativa com Segurança?
A resposta é clara: não. Em pacientes com ceratocone, a córnea já está biomecanicamente fragilizada. A aplicação de um laser para remodelar essa estrutura pode agravar a condição, acelerando a progressão da doença e levando a complicações graves, como a necessidade de transplante de córnea.
Mesmo após a realização de um tratamento estabilizador como o crosslinking corneano (CXL), a maioria dos especialistas contraindica procedimentos ablativos. Isso porque a cirurgia retiraria tecido da região que foi recentemente fortalecida, anulando os efeitos do tratamento.
Técnicas como o “CXL plus” (que combina crosslinking com PRK, t-PTK ou implantes intracorneanos) vêm sendo estudadas com resultados promissores em casos muito selecionados e sob protocolos rigorosos. Ainda assim, essas abordagens estão longe de serem indicadas para todos os pacientes com ceratocone, e devem ser realizadas apenas por cirurgiões altamente experientes e em centros especializados.
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Há Outras Formas de se Livrar dos Óculos para Quem Tem Ceratocone?
Sim. Pacientes com ceratocone dispõem hoje de diversas alternativas para melhorar a visão sem depender exclusivamente dos óculos:
- Lentes de contato especiais: como as lentes esclerais, que oferecem excelente qualidade visual mesmo em casos avançados.
- Implantes intracorneanos (ICRS): pequenos anéis inseridos no estroma da córnea que ajudam a regularizar a superfície corneana e melhorar a visão.
- Lentes fácicas intraoculares (PIOLs): em casos selecionados, essas lentes podem ser implantadas sem alterar a córnea, oferecendo correção refrativa adicional com segurança.
- Técnicas combinadas (CXL plus): como PRK guiado por topografia seguido de crosslinking, indicadas para casos muito específicos com estabilidade comprovada da doença.
Cada caso deve ser avaliado de forma personalizada. O importante é lembrar que o foco do tratamento do ceratocone é sempre preservar a estabilidade corneana e evitar intervenções de risco.
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Conclusão
A vontade de abandonar os óculos é compreensível, mas para quem tem ceratocone, a cirurgia refrativa tradicional não é segura. O diagnóstico precoce é essencial para impedir a progressão da doença, e o tratamento deve ser conduzido por um oftalmologista especializado em córnea. Existem alternativas eficazes e seguras para melhorar a visão e a qualidade de vida desses pacientes, mas todas devem ser bem planejadas e individualizadas. Nunca arrisque sua visão com soluções milagrosas. Informe-se, trate-se com um especialista, e cuide do seu bem mais precioso: a sua visão.
Dr. Aron Guimarães é médico oftalmologista especialista pela USP/SP e com mestrado e doutorado pela UNICAMP.
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Perguntas sobre o tema
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Tenho ceratocone. Posso fazer cirurgia a laser para corrigir a miopia?
Não. A cirurgia refrativa a laser, como o LASIK ou PRK, é contraindicada em pacientes com ceratocone, pois pode piorar a instabilidade da córnea e acelerar a progressão da doença.
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Fiz crosslinking. Agora posso fazer cirurgia refrativa?
Mesmo após o crosslinking, a cirurgia refrativa a laser ainda é arriscada. O tecido fortalecido pelo tratamento pode ser removido pela cirurgia, anulando o efeito do crosslinking.
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O que pode acontecer se eu fizer cirurgia refrativa tendo ceratocone?
Pode haver progressão acelerada do ceratocone, piora da visão e até necessidade de transplante de córnea.
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Existem casos em que é possível operar?
Sim, mas são casos muito bem selecionados, com doença estável, espessura corneana adequada e sempre com técnicas combinadas, como PRK com CXL simultâneo.
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O crosslinking cura o ceratocone?
Não. O crosslinking estabiliza a doença, impedindo que ela avance, mas não reverte a deformidade já instalada.
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Por que a cirurgia refrativa é perigosa para quem tem ceratocone?
Porque ela remove tecido da córnea, e no ceratocone esse tecido já é fino e frágil, podendo colapsar.
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Tenho ceratocone leve. Isso muda alguma coisa?
Mesmo nos casos leves, a cirurgia refrativa tradicional continua sendo desaconselhada. Avaliações individualizadas podem indicar outras opções.
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O ceratocone tem cura?
Atualmente, não. Mas há tratamentos que estabilizam a doença e melhoram significativamente a visão.
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Posso usar lentes de contato após crosslinking?
Sim. Muitas vezes, a adaptação fica até melhor após a estabilização da córnea pelo crosslinking.
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Quais lentes são melhores para quem tem ceratocone?
As lentes esclerais costumam oferecer melhor conforto e qualidade visual, especialmente em casos moderados a avançados.
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O uso de óculos piora o ceratocone?
Não. Óculos não interferem na progressão da doença.
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O ceratocone pode causar cegueira?
Não causa cegueira total, mas pode gerar uma perda visual significativa se não tratado.
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A cirurgia com anel intracorneano substitui o crosslinking?
Não. Os anéis regularizam a curvatura da córnea, mas não estabilizam a doença como o crosslinking faz.
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O que é o “CXL plus”?
É a combinação do crosslinking com outra técnica refrativa, como PRK ou implantes. É indicado apenas em casos específicos.
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A cirurgia refrativa pode ser feita após o uso de anel intracorneano?
A depender do caso, pode-se considerar técnicas complementares, mas sempre com cautela e avaliação criteriosa.
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Qual o risco de um transplante de córnea?
É uma cirurgia segura quando bem indicada, mas envolve riscos como rejeição, infecção e tempo de recuperação prolongado.
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Existe alguma cirurgia segura para quem tem ceratocone?
Sim. Implante de anel intracorneano, lentes fácicas e o próprio crosslinking são opções seguras quando bem indicadas.
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Quanto tempo dura o efeito do crosslinking?
Em geral, o efeito é duradouro. A maioria dos pacientes permanece estável por muitos anos após o tratamento.
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Posso voltar a usar óculos após o crosslinking?
Sim. Muitos pacientes ainda precisam de óculos ou lentes, mas com melhor qualidade visual.
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Quem tem ceratocone pode usar lente intraocular?
Sim, especialmente as lentes fácicas, que não alteram a estrutura da córnea e podem corrigir grau residual.
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O que fazer se eu já fiz cirurgia refrativa e fui diagnosticado com ceratocone depois?
Você deve ser avaliado por um especialista. Pode ser necessário iniciar tratamento para estabilizar a doença e evitar progressão.
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Existe exame que detecta ceratocone precocemente?
Sim. A topografia e tomografia de córnea são fundamentais para o diagnóstico precoce, mesmo antes dos sintomas.
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Ceratocone é hereditário?
Existe um componente genético, mas fatores ambientais como coçar os olhos também influenciam.
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Criança pode ter ceratocone?
Sim. E nesses casos, o diagnóstico precoce é ainda mais importante para impedir a progressão rápida.
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Se eu tiver ceratocone em um olho, o outro também será afetado?
Na maioria dos casos, sim. O ceratocone costuma ser bilateral, embora possa começar em apenas um olho.
Referências
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- MÉTODOS de correção cirúrgica refrativa do ceratocone. Archivos de la Sociedad Española de Oftalmología, v. 99, n. 6, p. 227–228, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.oftale.2024.04.005