Cirurgia para mudar a cor dos olhos – Vale a pena?

 

A busca pela mudança da cor dos olhos tem crescido nos últimos anos, impulsionada por desejos estéticos e pela influência das redes sociais. Mas afinal, quais são as opções cirúrgicas disponíveis para quem deseja alterar a tonalidade dos olhos? E, mais importante: essas técnicas são realmente seguras?

 

1. Quais os tipos de cirurgia que podemos fazer para mudar a cor dos olhos?

 

Atualmente, as principais técnicas cirúrgicas disponíveis para alterar a cor dos olhos são:

• Implantes de íris (Cosmetic Iris Implants): Consistem na inserção de uma prótese de silicone colorida dentro da câmara anterior do olho. Os modelos mais conhecidos são o NewColorIris e o BrightOcular.
• Despigmentação da íris com laser (Laser Iris Depigmentation): Técnica que utiliza lasers de alta energia para destruir o pigmento de melanina da íris, revelando uma tonalidade mais clara, geralmente azulada ou esverdeada.
• Ceratopigmentação (KTP – Cosmetic Keratopigmentation): Procedimento que insere pigmentos especiais na córnea, alterando a aparência da cor dos olhos sem interferir diretamente na íris.

 

2. Qual o nível de segurança de cada uma das técnicas?

 

Implantes de Íris

Considerada a técnica mais arriscada, os implantes de íris não têm aprovação de órgãos como o FDA ou a CE. Os riscos incluem:

• Perda de células endoteliais da córnea.
• Glaucoma.
• Uveíte.
• Edema corneano.
• Catarata precoce.
• Cegueira em casos extremos. Em estudos multicêntricos, mais de 90% dos pacientes que realizaram esse tipo de cirurgia apresentaram complicações sérias.

 

Despigmentação da íris com laser

 

É uma técnica minimamente invasiva, mas com dados de segurança ainda limitados. Possíveis complicações incluem:

• Inflamação ocular (irite).
• Aumento temporário da pressão intraocular.
• Glaucoma pigmentário.
• Fotofobia persistente. Apesar de apresentar maior segurança que os implantes, ainda carece de estudos de longo prazo.

 

Ceratopigmentação (KTP)

 

Atualmente considerada a técnica mais segura para alteração estética da cor dos olhos. As vantagens incluem:

• Não invasiva para as estruturas internas do olho.
• Baixa taxa de complicações.
• Alta taxa de satisfação estética. Complicações, quando ocorrem, geralmente são leves e incluem:
• Fotofobia temporária.
• Secura ocular.
• Pequena chance de infecção. Estudos apontam que mais de 90% dos pacientes ficam satisfeitos com o resultado estético.

 

3. Qual a melhor forma de se mudar a cor dos olhos por meio de cirurgia na atualidade? É seguro?

 

Baseado nos estudos mais recentes, a Keratopigmentação (KTP) é atualmente a opção mais segura e eficaz para quem busca alterar a cor dos olhos de forma permanente por motivos estéticos. A técnica evoluiu muito nos últimos anos, principalmente com o uso de lasers de femtosegundo para criar túneis precisos na córnea e a utilização de pigmentos minerais biocompatíveis.

 

No entanto, mesmo a KTP requer uma avaliação cuidadosa, levando em conta o histórico ocular do paciente e a expectativa estética. É fundamental que o procedimento seja realizado por oftalmologistas experientes e com equipamentos certificados.

 

4. Quais os riscos principais dessa técnica? Pode levar à cegueira?

 

Falando especificamente da Keratopigmentação, os riscos mais comuns são:

• Fotofobia transitória.
• Olho seco.
• Inflamação leve.
• Desbotamento da cor com o tempo (em alguns casos, pode requerer retoques).

Casos de complicações graves como infecções profundas ou perda visual são extremamente raros quando a técnica é realizada corretamente. Até o momento, não há relatos de cegueira diretamente causada pela KTP em pacientes que passaram por centros especializados e com protocolos adequados.

 

Já os implantes de íris, ao contrário, apresentam um risco elevado de perda visual definitiva, sendo considerados por muitos especialistas como uma prática de alto risco e até antiética.

 

A técnica de despigmentação da íris com laser também não está isenta de riscos, especialmente em relação ao desenvolvimento de glaucoma pigmentário e alterações permanentes na sensibilidade ocular.

 

5. A KTP é realizada no Brasil? Quanto custa?

 

No Brasil, a Ceratopigmentação (KTP) só é recomendada para fins terapêuticos, como em casos de leucomas, cicatrizes corneanas ou outras alterações oculares graves que justifiquem a camuflagem da córnea. Para olhos saudáveis, com objetivo exclusivamente estético, o procedimento é desaconselhado pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).

 

Por isso, muitas pessoas que desejam mudar a cor dos olhos por motivos estéticos acabam buscando clínicas no exterior, especialmente em países como Suíça, Turquia ou Espanha, onde a técnica é permitida para fins cosméticos.

 

O custo da ceratopigmentação estética fora do Brasil varia bastante, mas os valores médios estão entre US$ 9.000 e US$ 10.000 (aproximadamente R$ 45.000 a R$ 55.000, dependendo do câmbio). Há também clínicas que cobram entre € 5.900 e € 8.000, o que equivale a R$ 35.000 a R$ 50.000.

 

Vale ressaltar que procedimentos com preços muito abaixo desses valores geralmente indicam o uso de técnicas não aprovadas ou pigmentos de baixa qualidade, o que aumenta o risco de complicações.

No Brasil, para pacientes com indicação terapêutica, o custo pode variar dependendo da clínica, do cirurgião e da complexidade do caso, mas é menos comum encontrar valores padronizados. Em muitos casos, os procedimentos são cobertos por planos de saúde quando bem justificados.

 

A orientação do CBO é clara: para quem tem olhos saudáveis e deseja mudar a cor apenas por estética, a alternativa mais segura continua sendo o uso de lentes de contato coloridas, sob orientação de um oftalmologista.

 

Dr. Aron Guimarães é médico oftalmologista especialista pela USP/SP e com mestrado e doutorado pela UNICAMP.
Saiba mais em aronguimaraes.com.br

 

Perguntas de pacientes sobre o tema:

 

1. Quais são as principais técnicas cirúrgicas existentes atualmente para quem deseja mudar permanentemente a cor dos olhos de forma segura?

Atualmente, as principais técnicas são a Ceratopigmentação (KTP), o laser de despigmentação da íris e os implantes de íris, que são altamente desaconselhados por causa do risco de complicações graves, incluindo cegueira.

 

2. A ceratopigmentação (KTP) pode ser realizada por qualquer oftalmologista ou é necessário um especialista em cirurgia de segmento anterior?

A KTP deve ser realizada apenas por oftalmologistas com especialização em cirurgia de segmento anterior, experiência comprovada em cirurgia corneana e acesso a equipamentos específicos para a técnica.

 

3. Quais são os principais riscos associados aos implantes de íris coloridos para alteração da cor dos olhos em pacientes com olhos saudáveis?

Os implantes de íris apresentam alto risco de complicações como glaucoma, inflamação intraocular, perda de células da córnea, catarata precoce e, em casos extremos, cegueira definitiva.

 

4. Por que a KTP é considerada mais segura em comparação com os implantes de íris e a técnica de laser para mudança da cor ocular?

A KTP é feita apenas na córnea, sem invadir as estruturas internas do olho, o que reduz significativamente os riscos de infecções internas, aumento da pressão ocular e perda visual.

 

5. Quanto tempo dura o efeito estético da ceratopigmentação nos olhos e existe a possibilidade de desbotamento da cor com o tempo?

O efeito da KTP é considerado permanente, mas em alguns pacientes pode haver um leve desbotamento da cor após alguns anos, o que pode exigir retoques.

 

6. Existe risco de rejeição ou reação alérgica aos pigmentos utilizados na ceratopigmentação durante a cirurgia para mudar a cor dos olhos?

Os pigmentos são produzidos com materiais minerais micronizados e biocompatíveis, reduzindo ao máximo o risco de reações alérgicas. No entanto, pode haver inflamação leve no pós-operatório.

 

7. A KTP pode ser feita em qualquer paciente que queira mudar a cor dos olhos ou existe algum critério de seleção pré-cirúrgica?

Nem todos os pacientes são candidatos. A avaliação prévia inclui análise da saúde ocular, espessura da córnea e exclusão de doenças como glaucoma ou ceratocone.

 

8. A cirurgia de ceratopigmentação pode prejudicar a visão de alguma forma, causando borramento, perda de acuidade visual ou distorções?

Quando realizada de forma adequada, a KTP não interfere na qualidade visual, pois o pigmento é inserido fora da zona óptica central da córnea.

 

9. Em caso de insatisfação com o resultado estético da KTP, existe a possibilidade de reversão ou correção da cor aplicada?

Em alguns casos, é possível realizar um novo procedimento para corrigir ou ajustar a cor, mas a reversão completa para a cor original pode ser complexa.

 

10. Quanto custa, em média, a cirurgia de ceratopigmentação para mudança de cor dos olhos quando realizada fora do Brasil?

O custo médio internacional da KTP estética varia entre R$ 35.000 e R$ 55.000, dependendo do país, da clínica e da experiência do cirurgião.

 

11. Por que o Conselho Brasileiro de Oftalmologia contraindica a realização de ceratopigmentação com finalidade estética em pacientes com olhos saudáveis?

O CBO contraindica a KTP estética em olhos saudáveis por razões éticas e de segurança, já que não existem estudos de longo prazo suficientes que garantam a segurança nesses casos.

 

12. Quais são os sintomas mais comuns no pós-operatório da KTP e quanto tempo leva a recuperação completa do paciente?

Os sintomas mais comuns são fotofobia leve, sensação de olho seco e discreto desconforto. A recuperação geralmente leva entre 2 a 4 semanas.

 

13. Existe algum risco de infecção ocular após a realização da ceratopigmentação? Que cuidados são necessários para prevenir complicações?

Sim, existe um risco pequeno de infecção. O paciente deve seguir rigorosamente as orientações médicas, utilizar colírios antibióticos e evitar coçar ou tocar os olhos.

 

14. A mudança de cor obtida com a KTP parece natural aos olhos de outras pessoas ou é perceptível que se trata de uma intervenção estética?

Geralmente, a aparência é muito natural, com possibilidade de escolha de tonalidades que se harmonizem com a aparência do paciente.

 

15. Caso o paciente precise de cirurgias oculares futuras, como catarata ou transplante de córnea, a KTP pode dificultar esses procedimentos?

A KTP não impede futuras cirurgias oculares, mas pode dificultar alguns exames e o planejamento cirúrgico, exigindo maior cuidado do oftalmologista.

 

16. A técnica de laser para despigmentação da íris é uma alternativa segura e aprovada em países como o Brasil ou ainda é considerada experimental?

Essa técnica ainda é considerada experimental, sem aprovação do FDA ou da Anvisa. Os dados sobre segurança de longo prazo são limitados.

 

17. O paciente pode escolher qualquer cor para aplicar na ceratopigmentação ou existem limitações quanto às tonalidades disponíveis?

Existem várias tonalidades disponíveis, como azul, verde, mel e cinza. A escolha é feita com base em testes prévios e simulações personalizadas.

 

18. Pessoas com histórico de cirurgia refrativa como LASIK podem realizar a ceratopigmentação sem aumento de riscos ou complicações?

Pacientes que já passaram por LASIK precisam de avaliação cuidadosa, pois o afinamento corneano pode aumentar o risco de complicações na KTP.

 

19. A ceratopigmentação pode ser feita em olhos com alguma doença ocular preexistente, como ceratocone ou glaucoma?

Não. Doenças como ceratocone, glaucoma ativo, infecções oculares ou alterações na estrutura corneana são contraindicações absolutas para a realização da KTP.

 

20. Existe acompanhamento a longo prazo após a KTP? O paciente precisa realizar exames periódicos mesmo após a recuperação inicial?

Sim. O acompanhamento anual é fundamental. Exames de controle ajudam a avaliar a estabilidade da pigmentação e a saúde geral dos olhos após a cirurgia.

 

Referências

 

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• CONSELHO BRASILEIRO DE OFTALMOLOGIA – CBO. Cirurgias estéticas para mudança da cor dos olhos. Disponível em: https://www.cbo.net.br/novo/publico/saudeocular-mudanca-cor-olhos.php