Fotobiomodulação (Valeda) para DMRI – Saiba tudo
A fotobiomodulação (PBM) com o sistema Valeda é uma terapia que utiliza um sofisticado equipamento que emite luzes de diferentes comprimentos de onda para estimular a saúde das células da retina. É indicada para pacientes com DMRI seca em estágios iniciais e intermediários.
Estudos como o LIGHTSITE III demonstraram leve melhora visual e importante redução na progressão da atrofia geográfica, embora a significância clínica ainda seja debatida.
O tratamento é seguro, com poucos efeitos adversos relatados, e tem custo de cerca de R$ 9000,00 por ciclo. Em geral são indicados de 2 a 3 ciclos por ano.
Apesar de não ser uma cura, a PBM representa uma opção terapêutica promissora para retardar a progressão da doença.
1. O que é a Fotobiomodulação ou Valeda? Quando surgiu esse tratamento?
A fotobiomodulação (PBM) é uma tecnologia avançada que utiliza comprimentos de onda específicos de luz – geralmente nas faixas do amarelo (590 nm), vermelho (660 nm) e infravermelho próximo (850 nm) – para estimular processos celulares em tecidos biológicos. Essa estimulação ocorre principalmente nas mitocôndrias, promovendo o aumento da produção de ATP, melhorando a oxigenação celular e reduzindo processos inflamatórios. É uma técnica já utilizada em diversas áreas da medicina, como dermatologia, ortopedia e neurologia, e que passou a ser aplicada também na oftalmologia com o sistema Valeda.
O sistema Valeda, desenvolvido pela empresa norte-americana LumiThera, foi criado especificamente para tratar a Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI) do tipo seca, uma das principais causas de perda visual em idosos. O desenvolvimento clínico da PBM para DMRI teve avanço significativo com os estudos LIGHTSITE I, II e III, sendo este último, publicado em 2024, o maior e mais robusto até o momento. O estudo LIGHTSITE III foi um ensaio clínico randomizado, duplo-cego, multicêntrico, com 148 olhos tratados em 10 centros nos Estados Unidos, e demonstrou melhora na acuidade visual dos pacientes e redução na progressão da atrofia geográfica. Ele teve seu uso aprovado pelo FDA, órgão regulatório dos Estados Unidos.
2. Para quem é indicado esse tratamento?
O tratamento com fotobiomodulação é indicado para pacientes com DMRI seca nos estágios inicial ou intermediário, antes do desenvolvimento de atrofia central da retina ou forma exsudativa (“molhada”) da doença. A classificação mais comum para esse estadiamento é a AREDS, que considera tamanho e quantidade de drusas, atrofia retiniana e envolvimento foveal.
Pacientes ideais para a PBM têm acuidade visual entre 20/32 e 20/100 e apresentam drusas grandes ou atrofia geográfica periférica. É importante ressaltar que, para ser considerado candidato ao tratamento, o paciente deve passar por uma avaliação oftalmológica detalhada, incluindo mapeamento de retina, autofluorescência, tomografia de coerência óptica (OCT) e, se necessário, angiografia.
Em termos práticos, esse tratamento representa uma opção para aqueles que não possuem alternativas eficazes, visto que, atualmente, não há medicamentos ou terapias aprovadas amplamente para tratar a DMRI seca. Suplementações antioxidantes, conforme o estudo AREDS2, podem apenas retardar a progressão da doença em uma porcentagem limitada de casos (cerca de 30%).
3.Pacientes com DMRI tipo seca podem ter benefícios com a fotobiomodulação?
Sim. A PBM tem mostrado resultados promissores em diversos estudos. O estudo LIGHTSITE III demonstrou que, após quatro ciclos de tratamento (totalizando cerca de 13 meses), os pacientes tratados com Valeda apresentaram uma melhora média de 5,4 letras na acuidade visual (escala ETDRS), contra 3,0 letras no grupo sham (controle). Além disso, mais da metade dos olhos tratados com PBM (55%) ganharam 5 letras ou mais, e 26,4% ganharam 10 letras ou mais, comparados a 40,8% e 14,9% respectivamente no grupo controle.
Outro achado importante foi a redução na progressão da atrofia geográfica. Apenas 1,1% dos olhos tratados desenvolveram nova atrofia durante o estudo, contra 10% no grupo controle, indicando um efeito potencialmente neuroprotetor da terapia.
Por outro lado, revisões sistemáticas recentes como a da Cochrane (2021) e uma meta-análise publicada em 2024 apontam que, apesar dos resultados estatisticamente significativos, o ganho funcional pode não ser clinicamente relevante em todos os casos. A diferença média de 1,76 letras observada na meta-análise, por exemplo, não atinge o limiar de significância clínica definido como mínimo de 6,8 letras (MCID). Isso demonstra que os resultados devem ser interpretados com cautela.
Ainda assim, para muitos pacientes, principalmente os que percebem redução de contraste ou dificuldade de leitura, os pequenos ganhos visuais e a manutenção do estágio da doença já representam um avanço importante.
4. Como funciona o ciclo de tratamento?
O ciclo de tratamento com o sistema Valeda é composto por uma série de nove sessões, realizadas ao longo de três a cinco semanas. Durante cada sessão, o paciente recebe a aplicação de luzes de diferentes comprimentos de onda (590 nm, 660 nm e 850 nm) diretamente sobre os olhos, com duração de apenas alguns minutos por olho.
As aplicações geralmente são feitas duas a três vezes por semana, totalizando as nove sessões em aproximadamente um mês. Após a conclusão de um ciclo, recomenda-se um intervalo de quatro meses antes de iniciar um novo ciclo, caso o médico considere indicado.
Portanto, ao longo de um ano, o paciente pode realizar até três ciclos completos de tratamento, dependendo da resposta clínica e da orientação médica. Esse esquema de repetição tem como objetivo manter os efeitos benéficos da fotobiomodulação e controlar a progressão da DMRI seca.
5. Existem riscos com esse tratamento?
De forma geral, a fotobiomodulação é considerada segura. O estudo LIGHTSITE III relatou que não houve efeitos adversos graves atribuídos diretamente à PBM. Apenas um pequeno número de pacientes relatou desconfortos passageiros durante as sessões, como sensação de luz intensa ou leve dor ocular, mas nenhum desses eventos levou à suspensão do tratamento.
Além disso, o risco de conversão da DMRI seca para a forma exsudativa (molhada) foi baixo e comparável ao grupo controle. Outros parâmetros de segurança, como estabilidade do campo visual e função retiniana geral, permaneceram inalterados ou melhoraram.
Importante destacar que a PBM deve ser realizada apenas por profissionais especializados, com dispositivos aprovados por agências regulatórias, como a FDA e ANVISA, e em centros oftalmológicos preparados para seguimento de doenças da retina. O acompanhamento regular é essencial para monitorar a resposta terapêutica e evitar complicações inesperadas.
6. Quanto custa o tratamento com fotobiomodulação?
O custo é uma preocupação importante para muitos pacientes. Em geral, o tratamento com Valeda envolve séries de nove sessões realizadas ao longo de três a cinco semanas, com repetição a cada quatro meses. O valor por ciclo completo é em torno de R$ 9.000. Por ano o paciente pode ter um gasto de R$18.000 – R$27.000,00.
Embora não esteja atualmente disponível no SUS e raramente é coberto por planos de saúde, muitos pacientes optam pelo investimento diante da falta de alternativas eficazes para a DMRI seca.
Do ponto de vista custo-benefício, é fundamental avaliar a relação entre os ganhos visuais esperados, a manutenção da autonomia do paciente e a prevenção da progressão para estágios mais graves da doença. A decisão deve sempre ser compartilhada entre paciente e médico.
7. Conclusão
A fotobiomodulação com o sistema Valeda representa uma proposta terapêutica segura, inovadora e potencialmente eficaz para pacientes com DMRI seca nos estágios iniciais e intermediários. Apesar de algumas divergências na literatura quanto à significância clínica dos resultados, os estudos apontam para estabilidade da doença, melhora de parâmetros funcionais e impacto positivo na qualidade de vida.
Não é um tratamento milagroso, mas pode ser uma excelente opção para quem busca manter a independência visual por mais tempo. Pacientes devem ser bem orientados sobre os potenciais benefícios, limitações e custos envolvidos. O papel do oftalmologista especialista em retina é fundamental nesse processo.
Se você tem Degeneração Macular Relacionada à Idade do tipo seca, converse com seu oftalmologista sobre a possibilidade de realizar esse tratamento. A avaliação precoce é a melhor forma de preservar sua visão.
Dr. Aron Guimarães é médico oftalmologista especialista pela USP/SP e com mestrado e doutorado pela UNICAMP.
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Perguntas de pacientes sobre o tema
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“Eu tenho diagnóstico de DMRI seca em estágio inicial, mas minha visão ainda está boa. Vale a pena começar o tratamento com fotobiomodulação mesmo assim?”
Sim, quanto mais cedo o tratamento for iniciado, maior a chance de preservar a visão e retardar a progressão da doença. A fotobiomodulação tem mostrado melhores resultados em fases iniciais da DMRI seca, evitando que a doença avance para estágios mais severos.
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“Se eu fizer apenas um ciclo de fotobiomodulação, já consigo perceber alguma melhora na visão ou preciso de vários ciclos para ter resultado?”
Os estudos mostram que os principais benefícios ocorrem após múltiplos ciclos, geralmente com sessões a cada quatro meses. Alguns pacientes percebem melhora após o primeiro ciclo, mas a recomendação é fazer o tratamento contínuo para potencializar os resultados.
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“O tratamento com o Valeda é doloroso ou pode causar algum desconforto durante as sessões de aplicação da luz nos olhos?”
O tratamento é indolor. Durante a sessão, você pode perceber um leve brilho de luz ou uma sensação de aquecimento suave, mas sem dor. O desconforto é mínimo e transitório.
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“Tenho medo de efeitos colaterais a longo prazo. Existe algum risco de a fotobiomodulação piorar a minha visão ou causar outras doenças oculares?”
Até o momento, os estudos científicos indicam que a fotobiomodulação é segura e bem tolerada. Não há registros de piora da visão nem de desenvolvimento de outras doenças oculares relacionadas ao tratamento.
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“Se eu já faço uso de suplementos da AREDS2 para DMRI, posso combinar com a fotobiomodulação ou isso pode ter alguma contraindicação?”
Você pode sim combinar os dois tratamentos. Inclusive, o uso de suplementos antioxidantes junto com a fotobiomodulação é recomendado para potencializar os benefícios no controle da progressão da DMRI.
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“Tenho DMRI seca em estágio intermediário e também glaucoma controlado. A fotobiomodulação é segura para quem tem outras doenças oculares como o glaucoma?”
Sim, a PBM é segura mesmo em pacientes com outras condições oculares como o glaucoma, desde que esteja controlado. Porém, cada caso deve ser avaliado individualmente pelo oftalmologista.
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“Gostaria de saber se o efeito da fotobiomodulação é definitivo ou se eu vou precisar fazer ciclos de tratamento por toda a vida?”
A fotobiomodulação não é uma cura definitiva. Ela atua retardando a progressão da doença e melhorando a função visual. Por isso, a repetição dos ciclos a cada quatro meses costuma ser recomendada a longo prazo.
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“Meu pai tem mais de 85 anos e DMRI seca avançada com atrofia central. Ainda assim ele pode se beneficiar da fotobiomodulação?”
Infelizmente, para casos de atrofia central avançada, os benefícios da PBM são limitados. O tratamento é mais indicado para estágios iniciais e intermediários da DMRI seca.
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“Existe algum risco de que o tratamento com o Valeda faça a minha DMRI seca evoluir mais rápido para a forma exsudativa (molhada)?”
Os estudos mostraram que a taxa de conversão para a forma exsudativa foi semelhante ou até menor no grupo tratado com PBM em comparação ao grupo controle. Até agora, não há evidências de que o Valeda aumente esse risco.
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“Caso eu faça o tratamento e não obtenha melhora na visão, posso interromper o ciclo ou isso pode prejudicar ainda mais minha retina?”
Se não houver resposta clínica, o médico pode decidir interromper o tratamento sem prejuízos futuros à sua retina. Não continuar o tratamento não vai piorar a sua condição de forma abrupta.
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“Tenho diabetes controlado e já fiz laser na retina anteriormente. Posso realizar a fotobiomodulação sem risco de complicações?”
Pacientes diabéticos com histórico de tratamentos a laser podem fazer a fotobiomodulação, desde que o oftalmologista avalie cuidadosamente a condição da retina antes de iniciar o processo.
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“Como posso saber se meu caso de DMRI é do tipo seco e se estou no estágio certo para começar a fotobiomodulação?”
O diagnóstico correto do tipo e estágio da DMRI é feito através de exames como mapeamento de retina, autofluorescência e tomografia de coerência óptica (OCT). O seu oftalmologista é quem vai definir a indicação.
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“Se eu fizer os ciclos de fotobiomodulação, vou conseguir parar de usar meus óculos de leitura ou isso não muda?”
A fotobiomodulação pode melhorar a qualidade geral da visão, mas não substitui a necessidade dos óculos. Ela não corrige erros refrativos como hipermetropia ou presbiopia.
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“Moro em uma cidade do interior e não tenho acesso fácil ao tratamento. Existe algum problema em fazer os ciclos em intervalos mais longos que quatro meses?”
Idealmente, os ciclos devem seguir o intervalo de quatro meses, conforme os protocolos dos estudos. Mas, se houver limitações logísticas, o oftalmologista pode ajustar o cronograma para o seu caso específico.
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“Esse tipo de luz usada no Valeda pode causar catarata ou acelerar o envelhecimento das estruturas internas do olho?”
Não. As luzes utilizadas no Valeda são de baixa intensidade e específicas para bioestimulação celular. Não há evidências de que causem catarata ou danos estruturais no olho.
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“Com o custo de R$ 9.000,00 por ciclo, o investimento vale a pena em relação ao benefício que o tratamento pode oferecer para minha visão?”
A decisão é muito individual. Para pacientes com DMRI seca em fase inicial ou intermediária, o investimento pode representar a chance de manter a independência visual por mais tempo. Vale discutir caso a caso com o oftalmologista.
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“Existe alguma restrição de idade para fazer a fotobiomodulação? Pacientes com mais de 80 anos podem fazer sem problemas?”
Não há restrição de idade. Pacientes idosos podem fazer o tratamento desde que apresentem boa condição geral de saúde ocular e atendam aos critérios de indicação clínica.
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“Após quantas sessões posso começar a notar alguma diferença na minha visão, seja em nitidez ou em capacidade de leitura?”
Alguns pacientes relatam melhora já nas primeiras semanas após o primeiro ciclo, mas os maiores benefícios costumam aparecer após três a quatro meses de tratamento contínuo.
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“Se eu fizer a fotobiomodulação em uma clínica que não usa o equipamento Valeda, mas outro aparelho de luz, o efeito é o mesmo?”
Não necessariamente. O Valeda é o único equipamento testado e validado em estudos clínicos de grande porte para DMRI seca. A eficácia de outros aparelhos pode não ser comparável.
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“Se eu estiver fazendo outro tratamento oftalmológico, como injeções intravítreas para outro problema, posso fazer a fotobiomodulação ao mesmo tempo?”
Em muitos casos, é possível fazer os dois tratamentos concomitantemente, mas sempre com avaliação e autorização do seu oftalmologista de retina. Cada caso deve ser analisado individualmente.
Referências
BOYER, David et al. LIGHTSITE III: 13-Month Efficacy and Safety Evaluation of Multiwavelength Photobiomodulation in Nonexudative (Dry) Age-Related Macular Degeneration Using the Lumithera Valeda Light Delivery System. Retina, v. 44, p. 487–497, 2024. Disponível em: https://journals.lww.com/retinajournal/Fulltext/2024/03000/LIGHTSITE_III__13_Month_Efficacy_and_Safety.6.aspx
HENEIN, Christin; STEEL, David HW. Photobiomodulation for non-exudative age-related macular degeneration. Cochrane Database of Systematic Reviews, 2021, Issue 5. Art. No.: CD013029. DOI: 10.1002/14651858.CD013029.pub2. Disponível em: https://www.cochranelibrary.com/cdsr/doi/10.1002/14651858.CD013029.pub2/full
RASSI, Tiago N. O. et al. Photobiomodulation efficacy in age-related macular degeneration: a systematic review and meta-analysis of randomized clinical trials. International Journal of Retina and Vitreous, v. 10, n. 54, 2024. DOI: 10.1186/s40942-024-00569-x. Disponível em: https://ijretinavitreous.biomedcentral.com/articles/10.1186/s40942-024-00569-x