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Cirurgia de Catarata sem Implante de Lente Intraocular. É normal?

catarata

Cirurgia de Catarata sem Implante de Lente Intraocular. É normal?

 

A catarata é uma das principais causas de perda de visão no mundo e, felizmente, uma das que tem excelente tratamento. O avanço das técnicas cirúrgicas e das lentes intraoculares (LIOs) revolucionou o tratamento da catarata, permitindo que milhões de pessoas voltem a enxergar com clareza. Em grande parte das cirurgias, a substituição do cristalino opacificado por uma lente artificial ocorre de maneira segura e eficiente. No entanto, existem situações em que o implante da lente não é realizado durante a cirurgia.

Essa condição, conhecida como afacia, pode gerar dúvidas e preocupações entre os pacientes. Afinal, por que alguns pacientes saem da cirurgia sem a lente intraocular? Em que casos essa conduta é prevista e quando é consequência de uma complicação? Quais são os próximos passos após uma cirurgia de catarata sem lente?

 

  1. O que é a catarata e como funciona a cirurgia?

Antes de tudo, é importante compreender o que é a catarata e como funciona sua cirurgia. A catarata ocorre quando o cristalino, lente natural do olho, perde sua transparência, levando à visão embaçada, perda de contraste, aumento da sensibilidade à luz e dificuldade para enxergar cores.

 

Essa opacificação é, na maioria das vezes, resultado do envelhecimento natural, mas também pode estar associada a fatores como diabetes, uso de certos medicamentos (como corticosteroides), traumas oculares, infecções intraoculares e até mesmo predisposição genética. O tratamento da catarata é cirúrgico. A técnica mais utilizada é a facoemulsificação, na qual o cristalino é fragmentado por ondas de ultrassom e aspirado do olho. No lugar dele, é inserida uma lente intraocular artificial que cumpre a função óptica do cristalino, permitindo que a luz volte a se focalizar corretamente na retina. A escolha da lente leva em consideração diversos fatores, como o grau de refração do paciente, presença de astigmatismo e possíveis comorbidades oculares.

Tipos e Estágios de Catarata
Imagem Ilustrativa
  1. Em que casos de cirurgia de catarata já é esperado que não se coloque lente intraocular?

Contudo, em determinadas situações clínicas, o não implante da LIO já é uma decisão planejada. Um dos exemplos mais clássicos são os casos de catarata congênita em bebês menores de seis meses. Nessa faixa etária, os olhos ainda estão em desenvolvimento, o que dificulta a previsibilidade do grau da lente e aumenta o risco de complicações, como inflamações ou opacificação da cápsula posterior.

 

Estudos como o Infant Aphakia Treatment Study (IATS) demonstraram que nesses pacientes, o uso de correção óptica com lentes de contato ou óculos pode trazer resultados visuais tão bons quanto o implante precoce da lente, com menor risco de complicações. A lente intraocular, nesses casos, é geralmente implantada em uma segunda cirurgia, por volta dos quatro ou cinco anos de idade, quando o olho já atingiu um desenvolvimento mais estável. Além disso, pacientes com doenças inflamatórias intraoculares, como a uveíte, também podem ter o implante da lente adiado.

 

Nessas condições, a presença constante de inflamação aumenta o risco de reação adversa à lente, podendo causar opacificação, edema macular cistóide ou até mesmo perda visual permanente. Nesses pacientes, a prioridade é controlar a inflamação antes de qualquer implante intraocular. Outras situações planejadas que podem levar à cirurgia sem implante incluem casos de catarata associada a trauma ocular. Em olhos traumatizados, muitas vezes a cápsula do cristalino está rompida, há instabilidade do segmento anterior ou presença de corpo estranho intraocular.

 

Nesses casos, o cirurgião pode optar por apenas remover a catarata no primeiro momento, aguardando a reabilitação ocular para um segundo procedimento, no qual será feita a fixação da lente, seja na íris, na esclera ou na câmara anterior. A abordagem depende das estruturas oculares remanescentes e da viabilidade de suporte para a lente.

 

  1. Nos demais casos, o que pode ter ocorrido para que o cirurgião não tenha colocado a lente intraocular?

Além dos casos em que a cirurgia sem lente é programada, existem também situações inesperadas durante a cirurgia que impedem o implante da lente. Uma das complicações mais comuns é a ruptura da cápsula posterior. Durante a facoemulsificação, essa cápsula atua como um suporte essencial para a fixação da lente.

 

Quando ela se rompe, o ambiente intraocular torna-se instável, aumentando o risco de a lente se deslocar para o vítreo ou causar inflamações e outras complicações. Quando isso ocorre, o cirurgião pode optar por encerrar o procedimento sem implantar a lente, principalmente se houver prolapso do vítreo ou sangramento. Nesses casos, uma vitrectomia anterior pode ser necessária para remover o vítreo prolapsado, e o paciente é monitorado até que seja possível agendar uma segunda cirurgia para o implante da lente.

 

Além disso, a presença de hemorragia, instabilidade zonular, edema corneano intraoperatório ou outras adversidades técnicas pode tornar o implante da lente arriscado naquele momento. Quando a cirurgia é concluída sem o implante da LIO, o paciente é considerado afácico. Essa condição causa uma perda significativa da capacidade de foco, resultando em visão muito embaçada, especialmente para objetos próximos. Para corrigir temporariamente essa condição, podem ser prescritos óculos com lentes muito fortes (em casos bilaterais) ou lentes de contato (em casos unilaterais), sendo essa última a opção mais eficaz para evitar aniseiconia — a diferença de tamanho das imagens entre os dois olhos, que pode prejudicar a visão binocular.

 

  1. Como funciona a segunda cirurgia que poderá ser necessária para implante de lente no caso da primeira não ter sido possível?

A boa notícia é que, na maioria dos casos, é possível realizar uma segunda cirurgia para implantar a lente. Essa cirurgia é chamada de implante secundário de lente intraocular. Dependendo da anatomia ocular e das estruturas disponíveis, diferentes técnicas podem ser utilizadas. Uma das mais modernas é a fixação escleral sem sutura, conhecida como técnica de Jacob, que oferece boa estabilidade, menor risco de deslocamento e evita o uso de pontos.

 

Outra possibilidade é a fixação da lente à íris, técnica que exige boa integridade do tecido iriano e não é indicada em casos de atrofia ou sinéquias. Há ainda as lentes de câmara anterior, que são fixadas na parte da frente do olho, mas atualmente são utilizadas com menor frequência devido a maior risco de complicações como descompensação endotelial e glaucoma secundário. A escolha da técnica depende de uma avaliação criteriosa do cirurgião oftalmologista, levando em conta fatores como o estado da córnea, da íris, do segmento posterior e o histórico clínico do paciente. Os estudos mostram que os resultados visuais após a cirurgia secundária são, em geral, muito bons.

 

Pacientes que passam por esse tipo de reabilitação conseguem atingir acuidade visual comparável àqueles que receberam lente já na primeira cirurgia. Além disso, as tecnologias atuais de lentes intraoculares permitem uma escolha mais precisa do grau, reduzindo significativamente a dependência de óculos após o procedimento. As novas lentes monofocais, multifocais e as de foco estendido vêm evoluindo para proporcionar melhor qualidade de visão, inclusive em condições mais complexas.

 

  1. Conclusão

É fundamental lembrar que o acompanhamento oftalmológico após a cirurgia primária sem lente deve ser rigoroso. Pacientes afácicos têm maior risco de desenvolver condições como edema macular cistóide, glaucoma secundário e inflamações crônicas. Nesses casos, o uso de anti-inflamatórios tópicos e acompanhamento com exames como OCT (tomografia de coerência óptica) são essenciais para garantir a saúde da retina e do nervo óptico. Quando a cirurgia secundária é indicada, deve ser feita em momento oportuno, com o olho já estabilizado e sem sinais de inflamação.

 

Embora a cirurgia de catarata sem implante de lente intraocular possa parecer incomum, ela é uma abordagem necessária e segura em diversas situações clínicas. Seja em crianças pequenas, em pacientes com doenças inflamatórias, em olhos traumatizados ou diante de complicações intraoperatórias, o objetivo principal é sempre preservar a integridade ocular e garantir o melhor resultado visual possível.

 

Felizmente, a oftalmologia moderna dispõe de técnicas avançadas para o implante secundário da lente, e a maioria dos pacientes consegue excelente recuperação visual. O mais importante é que o paciente esteja bem informado, tranquilo e siga as orientações do seu oftalmologista para um tratamento eficaz e seguro.

 

Dr. Aron Guimarães é médico oftalmologista especialista pela USP/SP e com mestrado e doutorado pela UNICAMP.

Saiba mais em aronguimaraes.com.br

 

Perguntas sobre o tema:

 

  1. Doutor, por que eu fiz a cirurgia de catarata, mas não colocaram a lente intraocular como me falaram que era o normal?

Em alguns casos, durante a cirurgia de catarata, pode ocorrer alguma complicação, como a ruptura da cápsula que sustentaria a lente, o que impede o implante imediato da lente intraocular. Nessas situações, optamos por preservar a saúde ocular e planejar uma segunda cirurgia em momento mais adequado.

 

  1. Se eu não recebi a lente na primeira cirurgia, significa que minha visão vai ficar permanentemente ruim ou embaçada?

Não necessariamente. Embora a visão fique embaçada no início, usamos recursos temporários como óculos fortes ou lentes de contato. Em muitos casos, planejamos uma segunda cirurgia para implantar a lente e restaurar a visão de forma definitiva.

 

  1. Existe alguma chance de o meu olho rejeitar uma lente intraocular se ela for implantada numa segunda cirurgia?

A rejeição verdadeira da lente é extremamente rara. O que pode ocorrer são inflamações, principalmente se houver doenças associadas como uveítes. Por isso, seguimos critérios rigorosos de avaliação antes da cirurgia secundária.

 

  1. Por que em alguns bebês com catarata congênita a lente intraocular não é colocada logo na primeira cirurgia?

Em bebês menores de seis meses, o olho ainda está em desenvolvimento e a colocação da lente pode gerar complicações. Nesses casos, preferimos usar correção com óculos ou lentes de contato até o momento ideal para implantar a lente.

 

  1. Quanto tempo depois da primeira cirurgia de catarata sem lente posso fazer a segunda cirurgia para implantar a lente?

Isso depende da recuperação do olho, da presença de inflamação ou de cicatrização adequada. Em geral, a segunda cirurgia pode ser feita em algumas semanas ou meses, conforme avaliação do oftalmologista.

 

  1. É verdade que quando a lente não é implantada, o risco de complicações como inflamação e pressão alta no olho aumenta?

Sim, em alguns casos a ausência da lente pode alterar a anatomia do olho e predispor a complicações. Por isso, monitoramos de perto esses pacientes com exames regulares e tratamentos preventivos.

 

  1. Existe algum tipo de lente que pode ser colocada mesmo se o suporte da cápsula estiver danificado?

Sim, há lentes que podem ser fixadas na íris ou na esclera, mesmo na ausência da cápsula. Essas técnicas exigem maior experiência do cirurgião, mas oferecem bons resultados quando bem indicadas.

 

  1. Se eu tiver medo da segunda cirurgia, posso ficar sem a lente intraocular definitivamente e usar apenas óculos?

É possível, mas a visão sem lente intraocular costuma ser muito limitada. Os óculos com grau alto podem causar distorções, principalmente se for apenas em um olho. A lente secundária geralmente melhora muito a qualidade visual.

 

  1. Qual a diferença entre as lentes de câmara anterior e as lentes fixadas na íris ou esclera? Todas funcionam da mesma forma?

As três têm o mesmo objetivo: substituir o cristalino. Porém, cada uma é indicada conforme a anatomia do olho. As de câmara anterior ficam na parte da frente, as irianas se prendem à íris e as esclerais são fixadas no “branco do olho”. A escolha depende da avaliação médica.

 

  1. Por que é importante controlar bem a inflamação nos olhos antes de colocar uma lente intraocular secundária?

Porque a inflamação ativa pode aumentar o risco de complicações como edema macular, opacificação da lente e até perda visual. Queremos que o olho esteja calmo e saudável para garantir um bom resultado cirúrgico.

 

  1. Eu sou diabético. Isso interfere na possibilidade de colocar uma lente intraocular depois de uma cirurgia sem implante?

Pessoas com diabetes precisam de acompanhamento mais próximo, pois têm maior risco de inflamações e infecções. Mas com controle adequado, é totalmente possível implantar a lente e ter bons resultados.

 

  1. Existe alguma forma de prever antes da cirurgia se a lente poderá ou não ser implantada no mesmo momento?

Sim, alguns exames e sinais clínicos podem nos alertar sobre possíveis dificuldades. Porém, imprevistos como rupturas capsulares podem acontecer mesmo em olhos aparentemente saudáveis. Por isso, sempre preparamos planos alternativos.

 

  1. A lente secundária é menos eficaz ou tem mais riscos do que a lente implantada na primeira cirurgia?

Ela pode ser igualmente eficaz, mas exige mais técnica e avaliação criteriosa. Quando bem indicada e realizada, proporciona excelente qualidade de visão, semelhante à lente implantada na cirurgia primária.

 

  1. Em casos de trauma ocular, por que às vezes é necessário retirar a catarata, mas esperar para colocar a lente depois?

O trauma pode causar sangramentos, instabilidade e inflamações. Em tais situações, preferimos estabilizar o olho primeiro e, em um segundo momento, colocar a lente de forma mais segura.

 

  1. Vou precisar usar algum tipo de colírio ou medicação entre a primeira e a segunda cirurgia de catarata?

Sim, geralmente utilizamos colírios anti-inflamatórios e lubrificantes, e em alguns casos, medicação para controlar a pressão ocular. O acompanhamento regular é fundamental nesse período.

 

  1. Existe risco de a lente colocada numa segunda cirurgia “sair do lugar” com o tempo?

O risco existe, especialmente se a lente estiver fixada na íris ou esclera, mas é baixo quando a técnica é bem feita. Por isso, é importante escolher um cirurgião com experiência nesse tipo de procedimento.

 

  1. Quem tem glaucoma pode receber uma lente intraocular depois de uma cirurgia sem implante?

Pode, mas com cuidados extras. Avaliamos o controle da pressão ocular e se a cirurgia da lente não agravará o glaucoma. Em alguns casos, combinamos as duas cirurgias.

 

  1. O que acontece se eu tiver apenas um dos olhos sem lente? A visão vai ficar muito desequilibrada?

Pode haver desequilíbrio visual, principalmente em atividades de leitura ou profundidade. Por isso, usamos lentes de contato ou óculos especiais temporariamente, até o implante da lente intraocular no olho operado.

 

  1. A cirurgia secundária para colocação da lente é mais demorada ou mais dolorosa do que a cirurgia de catarata comum?

Ela costuma ser um pouco mais complexa e demorada, mas é feita com anestesia adequada e o paciente geralmente não sente dor. O pós-operatório é semelhante ao da cirurgia de catarata convencional.

 

  1. Caso eu não queira ou não possa fazer a segunda cirurgia, quais são as melhores opções para melhorar minha visão sem a lente?

As opções são óculos afácicos ou lentes de contato. Embora não substituam totalmente a lente intraocular, podem ajudar bastante. O oftalmologista indicará a melhor alternativa para seu caso específico.

 

Referências

 

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