Lente Intraocular Suja? Entenda os Sintomas e o Tratamento com Laser
O que é catarata e como funciona a cirurgia?
A catarata é uma doença ocular caracterizada pela opacificação progressiva do cristalino, a lente natural do olho. Essa condição é comum com o avanço da idade, mas também pode surgir por traumas, doenças metabólicas ou uso prolongado de medicamentos como os corticosteroides.
O tratamento padrão para catarata é cirúrgico. Durante a cirurgia, chamada facoemulsificação, o cristalino opaco é removido e substituído por uma lente intraocular (LIO) artificial, que devolve a transparência e o foco à visão do paciente. Essa cirurgia é segura, rápida e altamente eficaz, sendo realizada com anestesia tópica na maioria dos casos.
Estudos mostram que a cirurgia de catarata melhora significativamente a acuidade visual e a qualidade de vida, com baixos índices de complicações. Estima-se que mais de 90% dos pacientes tenham resultado visual satisfatório após o procedimento, quando não há outras doenças oculares associadas.
A lente intraocular é permanente?
Sim. As lentes intraoculares são projetadas para durar por toda a vida do paciente. Elas são feitas de materiais biocompatíveis, como acrílico ou silicone, que são bem tolerados pelo organismo. Existem diferentes tipos de lentes: monofocais, multifocais, tóricas e ópticas difrativas, cada uma com indicações específicas conforme o perfil visual do paciente.
Contudo, com o passar do tempo, é possível que ocorram alterações na cápsula posterior do olho onde a lente está posicionada, o que pode causar sintomas semelhantes à catarata. Essa alteração é chamada de opacificação capsular posterior (OCP).
Leia também: Quanto custa uma lente de catarata?
A lente intraocular pode “sujar”? Quais os sintomas?
Embora a lente em si não suje, o que muitas vezes os pacientes descrevem como “lente suja” é, na verdade, a opacificação da cápsula posterior. Essa condição ocorre quando células epiteliais residuais proliferam sobre a superfície da cápsula, criando uma membrana que interfere na passagem da luz.
Estudos mostram que a OCP afeta entre 20% e 50% dos pacientes em até 5 anos após a cirurgia de catarata. A incidência pode variar conforme a técnica cirúrgica, tipo de lente implantada e idade do paciente. Lentes com borda quadrada, por exemplo, tendem a reduzir esse risco.
Os sintomas incluem visão borrada, sensação de “neblina”, redução do contraste, maior sensibilidade à luz, halos em torno de luzes à noite, dificuldade para leitura e para realizar tarefas do dia a dia. O paciente pode relatar que a visão está pior do que antes da cirurgia, gerando preocupação.
O que é capsulotomia YAG laser e quando devemos fazer esse laser no paciente?
A capsulotomia com laser Nd:YAG é o tratamento padrão para a opacificação da cápsula posterior. Trata-se de um procedimento rápido, ambulatorial e indolor, que consiste em usar um laser para criar uma abertura central na cápsula posterior opacificada. Isso permite que a luz volte a passar livremente até a retina, restaurando a visão do paciente. Não é uma cirurgia. Usamos apenas colírio anestésico e tem duração de poucos minutos.
A decisão de indicar o procedimento deve levar em conta o grau de perda visual, o impacto na qualidade de vida e os riscos individuais. Em muitos casos, a melhora da visão é notada logo após o procedimento, sem necessidade de repouso ou interrupção das atividades.
Quais os riscos da capsulotomia?
Apesar de ser considerada segura, a capsulotomia com laser YAG não é isenta de riscos. Algumas complicações relatadas incluem:
- Aumento da pressão intraocular (geralmente transitório, controlado com colírios);
- Inflamação ocular (irite ou uveíte), tratada com colírios anti-inflamatórios;
- Edema macular cistóide (EMC), mais comum em olhos já predispostos;
- Deslocamento da lente intraocular, especialmente em lentes de háptica frágil;
- Danos na lente intraocular (pitting), geralmente sem repercussão visual;
- Risco levemente aumentado de descolamento de retina, principalmente em pacientes jovens, médios a altos míopes, ou com complicações prévias na cirurgia de catarata.
A revisão de Grzybowski et al. (2018) aponta que o risco de descolamento de retina após a capsulotomia é controverso, com alguns estudos mostrando aumento discreto do risco e outros não encontrando associação significativa. A recomendação é avaliar caso a caso, reduzindo ao máximo a energia do laser e evitando aplicações excessivas.
Pode-se fazer mais de uma vez a capsulotomia?
Em geral, uma única sessão é suficiente para restaurar a visão. No entanto, em alguns casos, como quando a abertura criada não foi suficientemente ampla ou houve recidiva da opacificação, uma segunda capsulotomia pode ser indicada.
Deve-se lembrar que, após a capsulotomia, a lente intraocular fica sem o suporte posterior da cápsula naquela região, o que torna o olho mais vulnerável a movimentos da lente, inflamações e, eventualmente, a alterações refrativas.
Estudos como o de Tan et al. (2022) mostram que não há alterações significativas na refração ou na profundidade da câmara anterior em até um mês após a capsulotomia, reforçando a segurança do procedimento.
Recomendações e acompanhamento pós-procedimento
Após a capsulotomia, recomenda-se:
- Usar colírios anti-inflamatórios conforme orientação médica;
- Realizar medida da pressão intraocular em 1 a 2 horas após o procedimento e em consultas de seguimento;
- Acompanhar sintomas como moscas volantes, flashes de luz ou “cortina escura” na visão, que podem indicar complicações retinianas;
- Revisar a refração (grau) após algumas semanas, pois pode haver leve mudança refracional.
Conclusão
A lente intraocular não “sujou” literalmente, mas a perda da visão após a cirurgia de catarata pode estar relacionada à opacificação capsular posterior. Felizmente, esse é um problema tratável com o uso do laser YAG, que é seguro, eficaz e minimamente invasivo.
A chave está na avaliação individualizada e no acompanhamento com um oftalmologista de confiança. Ao sinal de visão borrada ou dificuldade para enxergar após a cirurgia de catarata, não hesite em buscar orientação profissional. Um procedimento simples pode devolver sua qualidade visual com segurança.
Dr. Aron Guimarães é médico oftalmologista especialista pela USP/SP e com mestrado e doutorado pela UNICAMP.
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Referências bibliográficas:
- KARAHAN, Eyyup; ER, Duygu; KAYNAK, Suleyman. An Overview of Nd:YAG Laser Capsulotomy. Medical Hypothesis, Discovery & Innovation in Ophthalmology Journal, v. 3, n. 2, 2014
- QUERESHI, M. Hamza; STEEL, David H. W. Retinal detachment following cataract phacoemulsification—a review of the literature. Eye, v. 34, p. 616–631, 2020.
- GRZYBOWSKI, Andrzej; KANCLERZ, Piotr. Does Nd:YAG Capsulotomy Increase the Risk of Retinal Detachment? Asia-Pacific Journal of Ophthalmology, v. 7, n. 5, p. 339–344, 2018. DOI: 10.22608/APO.2018275.
- TAN, Yuan et al. Refraction Shift After Nd:YAG Posterior Capsulotomy in Pseudophakic Eyes: A Systematic Review and Meta-analysis. Journal of Refractive Surgery, v. 38, n. 7, p. 465–473, 2022.
Perguntas de pacientes sobre Capsulotomia YAG laser e a opacidade de cápsula posterior.
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Fiz a cirurgia de catarata há 3 anos e passei a notar nos últimos meses que a visão embaçou. Posso fazer esse laser?
Sim, isso é bastante comum. Provavelmente você está com opacificação da cápsula posterior, que é tratada com o YAG laser. Após uma avaliação detalhada, podemos confirmar o diagnóstico e, se indicado, o laser pode ser feito de forma rápida e segura.
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Fiz a cirurgia em ambos os olhos há 5 anos e agora minha visão está fosca, como se tivesse uma névoa. É normal?
Isso pode indicar opacificação da cápsula posterior, que é uma complicação tardia comum. A capsulotomia com YAG laser é o tratamento padrão e costuma restaurar a visão com eficácia.
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Comecei a ver uma mancha branca onde fica a lente do olho operado. Pode ser essa opacificação que falam?
Sim, essa “mancha” pode ser percebida por alguns pacientes como um reflexo ou película. O oftalmologista pode confirmar através de exames se é a cápsula posterior opacificada e indicar o tratamento com laser.
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Operei catarata há 2 anos e minha visão está ruim outra vez. Isso significa que a catarata voltou?
Na verdade, a catarata não volta, mas a cápsula que segura a lente pode se opacificar. É um problema diferente, mas com sintomas parecidos. E, felizmente, tem solução com o YAG laser.
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Minha visão está embaçada só à noite, com luzes espalhadas. Isso também pode ser tratado com o laser?
Sim, se a opacificação da cápsula estiver causando difusão de luz, o YAG laser pode ajudar bastante a melhorar a qualidade da visão noturna.
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Sinto que um dos olhos está pior que o outro. Fiz a cirurgia dos dois olhos há tempos. Posso fazer o laser só em um?
Sim, o tratamento é feito apenas no olho que apresenta a opacificação. O outro olho pode não precisar, mas será monitorado em consultas futuras.
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Já uso óculos, mas mesmo com eles a visão está ruim depois da cirurgia de catarata. É sinal de que a lente sujou?
É possível. Quando nem os óculos melhoram a visão, é provável que haja opacificação da cápsula posterior. O laser pode resolver isso sem trocar os óculos.
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O laser é doloroso? Precisa de agulha ou corte no olho?
Não, é um procedimento não invasivo e indolor. É feito no consultório, com o paciente sentado e com colírios anestésicos. Dura poucos minutos.
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Tenho medo de complicações. Ouvi falar que esse laser pode descolar a retina. Isso é verdade?
O risco é baixo, mas existe, principalmente em quem já tem predisposição, como altos míopes ou quem teve complicações na cirurgia. Avaliamos esses riscos antes de indicar o procedimento.
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Fiz cirurgia de catarata e sou míope alto. O laser é seguro para mim?
Sim, mas com alguns cuidados extras. Examinamos bem a retina antes e depois do procedimento. Em casos como o seu, o acompanhamento deve ser mais próximo.
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Se eu fizer o laser, posso ter que operar de novo?
Não. A capsulotomia com YAG é definitiva na maioria dos casos. É muito raro precisar de novo procedimento, e uma segunda sessão é suficiente se necessário.
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O laser pode danificar a lente intraocular que foi colocada na cirurgia?
Pode ocorrer um pequeno dano chamado “pitting” se o laser atingir a lente, mas isso geralmente não compromete a visão. Com técnica cuidadosa, o risco é mínimo.
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É verdade que a pressão do olho pode subir depois do laser? Isso é perigoso?
Sim, a pressão pode aumentar temporariamente em alguns pacientes. Por isso, monitoramos a pressão antes e depois. Em alguns casos, usamos colírios preventivos.
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Fiz cirurgia de retina recentemente. Posso fazer esse laser se precisar?
Depende do caso. Cada retina deve ser avaliada individualmente. Em alguns pacientes, adiamos o laser ou tomamos precauções extras.
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A melhora da visão depois do YAG laser é imediata? Ou demora para perceber resultado?
Geralmente a melhora é percebida em poucas horas ou dias. Em alguns casos, especialmente se houver inflamação ou outras condições oculares, a evolução pode ser mais lenta.
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Fiz a cirurgia de catarata há 4 anos e agora vejo pontos brilhantes e um brilho estranho em volta das luzes. Pode ser sinal de que preciso do laser?
Sim, esses sintomas podem estar relacionados à opacificação da cápsula posterior. A dispersão da luz costuma melhorar bastante após a capsulotomia com YAG laser.
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Posso dirigir depois de fazer o laser? Vou sair com a visão normal?
Sim, a maioria dos pacientes sai do consultório enxergando bem, mas recomendamos evitar dirigir no mesmo dia, pois a pupila pode estar dilatada e a visão um pouco sensível.
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Preciso suspender algum colírio ou remédio antes de fazer o laser?
Normalmente, não é necessário suspender nenhuma medicação, mas informe sempre ao médico sobre os colírios em uso, especialmente se estiver tratando glaucoma.
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Tenho diabetes e já tratei da retina. Esse laser pode afetar minha visão?
Pacientes diabéticos devem ser acompanhados com mais atenção. Se a retina estiver estável, o laser pode ser feito com segurança, mas o controle glicêmico e o acompanhamento com retina são essenciais.
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Depois de fazer o YAG laser, preciso voltar para revisão? Por quanto tempo fico em acompanhamento?
Sim, o acompanhamento é importante para verificar a resposta ao laser, controlar a pressão ocular e avaliar possíveis sintomas. Normalmente, fazemos revisões nos primeiros dias e depois espaçamos, conforme a evolução.