O que é Glaucoma? Sintomas e tratamento.
O que é o Glaucoma?
O glaucoma é uma doença ocular crônica, progressiva e silenciosa, caracterizada pela lesão do nervo óptico, geralmente associada ao aumento da pressão intraocular (PIO). Considerada uma das principais causas de cegueira irreversível no mundo, a doença acomete milhões de pessoas, muitas vezes sem apresentar sintomas evidentes nas fases iniciais. Isso torna o diagnóstico precoce essencial para preservar a visão e evitar complicações graves.

Essa neuropatia óptica, que é marcada por uma perda progressiva de células ganglionares da retina e da fibra nervosa, provoca uma escavação no disco óptico e alterações no campo visual. Em geral, está relacionada a um desequilíbrio entre a produção e a drenagem do humor aquoso, fluido presente no interior do olho, levando à elevação da PIO.
Quais os sintomas do Glaucoma?
Em estágios iniciais, o glaucoma costuma ser assintomático. Por isso é conhecido como o “ladrão silencioso da visão“. Com a progressão da doença, os sintomas variam conforme o tipo de glaucoma. No glaucoma de ângulo aberto, o mais comum, há uma perda gradual da visão periférica (visão “em tubo”) que só se torna perceptível em fases mais avançadas.
Em contrapartida, o glaucoma de ângulo fechado pode desencadear uma crise aguda, com sintomas intensos e de rápida instalação: dor ocular severa, cefaleia, olhos vermelhos, náuseas, vômitos e visão com halos coloridos ao redor das luzes. É uma urgência oftalmológica que deve ser tratada imediatamente para evitar a perda total da visão.
Outros sinais de alerta podem incluir dificuldade para enxergar em ambientes escuros, sensação de pressão nos olhos e alterações na adaptação visual. Por isso, mesmo sem sintomas, é essencial realizar exames oftalmológicos periódicos.

Como fechar o diagnóstico de Glaucoma?
O diagnóstico de glaucoma requer uma avaliação oftalmológica completa, pois a doença afeta de maneira sutil e progressiva a visão. Os exames mais utilizados incluem:
- Tonometrias: medem a PIO. A tonometria de aplanação de Goldmann é o padrão-ouro.
- Oftalmoscopia e retinografia: permitem visualizar a escavação do nervo óptico e detectar alterações sugestivas de glaucoma.
- Campimetria visual (perimetria): avalia a presença de perdas no campo visual.
- Tomografia de coerência óptica (OCT): analisa a espessura da camada de fibras nervosas da retina e a topografia do disco óptico.
- Paquimetria corneana: importante para ajustar a interpretação da PIO, pois córneas mais finas podem subestimar os valores reais.
- Gonioscopia: avalia a anatomia do ângulo de drenagem.
- Imagens estruturais: como o uso de IA com OCT e fundoscopia para detecção precoce.
Diagnosticar glaucoma em olhos com miopia elevada é um desafio adicional, pois a anatomia alterada pode simular sinais da doença. Nestes casos, recursos como a OCT e bases de dados específicas para olhos miópicos são fundamentais.
Como prevenir o glaucoma?
O glaucoma em si não é prevenível, mas suas complicações são evitáveis com a detecção precoce e o controle eficaz da PIO. A prevenção secundária é a mais importante, e inclui:
- Consultas regulares com o oftalmologista, especialmente após os 40 anos;
- Exames periódicos para populações de risco (histórico familiar, afrodescendentes, diabéticos, míopes altos);
- Avaliação da PIO, nervo óptico e campo visual durante os check-ups de rotina;
- Uso racional de medicamentos, como corticoides, que podem induzir glaucoma secundário;
- Educação em saúde ocular e campanhas de conscientização populacional.
A detecção precoce é a principal arma para evitar a perda visual. Em muitos casos, o glaucoma pode ser controlado por décadas com acompanhamento médico e terapias adequadas.

Quais os principais tipos de glaucoma?
- Glaucoma primário de ângulo aberto (GPAO): Forma mais comum, representa cerca de 70% dos casos. Evolui lentamente e pode ser assintomático por anos. Associado ao aumento progressivo da PIO e perda de fibras do nervo óptico.
- Glaucoma de ângulo fechado: Ocorre por fechamento do ângulo iridocorneano, bloqueando a drenagem do humor aquoso. Pode ser agudo (emergência) ou crônico.
- Glaucoma de pressão normal: PIO dentro dos valores considerados normais (<21 mmHg), mas há perda do nervo óptico. Mais comum em populações asiáticas e pessoas com distúrbios vasculares.
- Glaucomas secundários: Resultam de outras condições, como inflamações, traumas, uso prolongado de corticoides, pseudoesfoliação ou glaucoma pigmentário.
- Glaucoma congênito: Detectado logo nos primeiros meses ou anos de vida. Pode causar lacrimejamento excessivo, fotofobia e aumento do globo ocular.
Leia também: Cirurgia refrativa em pacientes com glaucoma
Como é feito o tratamento para os principais tipos de glaucoma?
O objetivo central é reduzir a PIO e preservar a função visual. As abordagens incluem:
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Colírios hipotensores oculares
- Prostaglandinas (ex: latanoprosta, bimatoprosta) são os mais eficazes e administrados 1x ao dia.
- Beta-bloqueadores, inibidores da anidrase carbônica e agonistas alfa-2 completam as opções.
- O sucesso depende da adesão, e estudos mostram que até 60% dos pacientes abandonam o uso após 1 ano. Implantes como o Durysta® têm mostrado bons resultados em manter a PIO controlada com maior adesão.
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Terapias a laser
- A trabeculoplastia seletiva a laser (SLT) é uma alternativa segura e eficaz, sendo indicada como tratamento inicial em alguns casos.
- Também há opções como iridotomia a laser para glaucomas de ângulo fechado.
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Cirurgias
- Indicadas quando colírios e laser falham. As principais são a trabeculectomia, implantes de drenagem (valva de Ahmed) e cirurgias minimamente invasivas (MIGS).
- Essas cirurgias buscam criar vias alternativas de drenagem ou melhorar as existentes.
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Novas abordagens terapêuticas
- Neuroproteção com agentes antioxidantes e antiapoptóticos.
- Nanotecnologia para veiculação prolongada de fármacos.
- Terapias genéticas e a utilização de IA no monitoramento e prognóstico da doença.
Leia também: Dieta para controle do Glaucoma
Conclusão
O glaucoma é uma doença grave, progressiva e que pode levar à cegueira irreversível se não diagnosticado e tratado a tempo. Apesar de silencioso, ele pode ser controlado com estratégias terapêuticas eficazes, desde que identificado precocemente.
Investimentos em tecnologias diagnósticas, como a tomografia de coerência óptica e inteligência artificial, bem como a educação da população, podem transformar o panorama do glaucoma no Brasil. O acompanhamento oftalmológico deve ser uma rotina para todos, principalmente após os 40 anos.
A atuação do oftalmologista é essencial não apenas para o diagnóstico e tratamento, mas também para orientar o paciente sobre a importância da adesão e continuidade do cuidado. Com informação, prevenção e acesso às terapias corretas, é possível preservar a visão e qualidade de vida de quem convive com glaucoma.
Dr. Aron Guimarães é médico oftalmologista especialista pela USP/SP e com mestrado e doutorado pela UNICAMP.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Perguntas de pacientes:
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O que é o glaucoma, como ele se desenvolve ao longo do tempo e por que é considerado uma doença silenciosa e perigosa?
O glaucoma é uma doença ocular crônica que provoca a degeneração progressiva e irreversível do nervo óptico, estrutura essencial para a condução das imagens captadas pelos olhos até o cérebro. Essa condição está geralmente relacionada ao aumento da pressão intraocular (PIO), causado por um desequilíbrio entre a produção e a drenagem do humor aquoso — o líquido que circula dentro do olho. O grande perigo do glaucoma é que, na maioria dos casos, ele não apresenta sintomas perceptíveis nas fases iniciais. A perda da visão periférica ocorre lentamente, sem dor ou incômodo, o que dificulta a percepção do problema pelo paciente. Por isso, ele é conhecido como o “ladrão silencioso da visão”.
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O glaucoma é uma doença que pode ser curada ou o paciente terá que conviver com ela pelo resto da vida, mesmo com o tratamento?
O glaucoma ainda não tem cura, pois os danos ao nervo óptico causados pela doença são irreversíveis. No entanto, a evolução da doença pode ser controlada de maneira eficaz, especialmente quando diagnosticada precocemente. O tratamento adequado — que pode incluir colírios, laser ou cirurgia — tem como objetivo estabilizar a pressão intraocular e evitar a progressão da perda visual. Com acompanhamento contínuo e uso correto das medicações, muitos pacientes conseguem manter a visão preservada por toda a vida.
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Quais são os fatores genéticos, clínicos e comportamentais que aumentam o risco de uma pessoa desenvolver glaucoma ao longo da vida?
Diversos fatores aumentam a probabilidade de desenvolver glaucoma. Entre os principais estão: ter idade superior a 40 anos; histórico familiar de glaucoma (parentes de primeiro grau); pressão intraocular elevada; descendência africana, asiática ou hispânica; presença de diabetes; hipertensão arterial; miopia alta; uso prolongado de corticoides (em colírios, pomadas ou comprimidos); cirurgias oculares prévias; e trauma ocular. Esses fatores, isoladamente ou combinados, aumentam significativamente o risco da doença e reforçam a importância do acompanhamento oftalmológico periódico.
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Se o glaucoma normalmente não apresenta sintomas nas fases iniciais, como posso saber se tenho a doença antes que seja tarde demais?
A única maneira de identificar o glaucoma precocemente é por meio de exames oftalmológicos regulares. Mesmo na ausência de sintomas, o oftalmologista pode avaliar sinais iniciais da doença por meio de exames específicos como a tonometria (que mede a pressão intraocular), a avaliação do nervo óptico, a campimetria visual e a tomografia de coerência óptica (OCT). Esses exames ajudam a identificar alterações antes que o paciente perceba qualquer prejuízo na visão. Por isso, quem tem fatores de risco deve visitar o oftalmologista anualmente, mesmo sem sentir nada.
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Uma vez que o tratamento é iniciado, existe a possibilidade de continuar perdendo a visão mesmo sob cuidados médicos adequados?
Sim, infelizmente existe essa possibilidade, especialmente se o diagnóstico for feito em um estágio já avançado ou se a forma de glaucoma for mais agressiva. Ainda assim, o tratamento reduz significativamente o risco de progressão da doença. Por isso, é fundamental seguir rigorosamente as orientações médicas, usar corretamente os medicamentos e realizar os exames de acompanhamento para verificar a eficácia do tratamento e ajustar a conduta sempre que necessário.
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Ter a pressão intraocular um pouco elevada já é suficiente para ser diagnosticado com glaucoma ou é preciso observar outros critérios clínicos?
Ter a pressão intraocular elevada é um dos principais fatores de risco para o glaucoma, mas não é suficiente para fechar o diagnóstico por si só. Muitas pessoas com pressão ocular alta nunca desenvolvem a doença (condição chamada hipertensão ocular), enquanto outras com PIO normal podem apresentar glaucoma (glaucoma de pressão normal). Por isso, é essencial avaliar também o aspecto do nervo óptico, o campo visual e a espessura da camada de fibras nervosas da retina. O diagnóstico depende de um conjunto de exames e não apenas da PIO isoladamente.
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É verdade que quem é diagnosticado com glaucoma precisará usar colírios diariamente pelo resto da vida?
Sim, para a maioria dos pacientes, o uso contínuo de colírios faz parte do tratamento crônico do glaucoma. Esses medicamentos ajudam a reduzir ou estabilizar a pressão intraocular, evitando que o dano ao nervo óptico continue progredindo. A interrupção ou uso irregular pode comprometer o controle da doença, levando à perda irreversível da visão. Em casos selecionados, o tratamento pode evoluir para opções como laser ou cirurgia, mas mesmo assim o acompanhamento contínuo será sempre necessário.
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Quando o tratamento com laser é indicado para o glaucoma e quais são os benefícios e limitações dessa abordagem?
O tratamento com laser pode ser indicado em diferentes situações. Na forma mais comum de glaucoma (ângulo aberto), utiliza-se a trabeculoplastia seletiva com laser (SLT), que melhora o escoamento do humor aquoso. Esse procedimento é seguro, indolor, e pode ser usado como alternativa ou complemento aos colírios. Já no glaucoma de ângulo fechado, a iridotomia a laser é essencial para prevenir crises agudas. Embora o laser possa reduzir ou até eliminar a necessidade de colírios por um período, os resultados variam de paciente para paciente e nem sempre dispensam outros tratamentos.
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Quais são os tipos de cirurgia mais comuns no tratamento do glaucoma e quando elas se tornam realmente necessárias?
As cirurgias são indicadas quando os colírios e o laser não conseguem manter a pressão ocular sob controle. As técnicas mais comuns são: a trabeculectomia (criação de uma nova via de drenagem do humor aquoso), os implantes de drenagem (como a válvula de Ahmed) e as cirurgias minimamente invasivas (MIGS), que têm menor risco e tempo de recuperação mais curto. A escolha da técnica depende do tipo de glaucoma, da gravidade da doença e da resposta anterior ao tratamento clínico.
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Após realizar uma cirurgia de glaucoma, posso considerar a doença controlada para sempre ou ela ainda exige cuidados contínuos?
A cirurgia é uma ferramenta poderosa no controle da pressão intraocular, mas não representa a cura do glaucoma. Mesmo após o procedimento, o paciente pode necessitar de colírios e, certamente, deverá manter o acompanhamento oftalmológico regular. A pressão pode voltar a subir com o tempo, e o nervo óptico continuará vulnerável. Portanto, a vigilância constante é fundamental mesmo nos casos pós-cirúrgicos.
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É possível que uma criança ou bebê nasça com glaucoma? Como essa forma da doença é tratada?
Sim. Existe o glaucoma congênito, uma forma rara que se manifesta logo nos primeiros meses de vida. Os sinais mais comuns incluem olhos grandes (buftalmos), lacrimejamento constante, fotofobia (aversão à luz) e opacidade da córnea. O tratamento geralmente é cirúrgico e deve ser realizado o mais cedo possível, pois a detecção e a intervenção precoces são cruciais para preservar a visão da criança.
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Ter miopia alta aumenta as chances de desenvolver glaucoma? Por que os olhos míopes são mais vulneráveis?
Sim, pessoas com miopia elevada apresentam maior risco de desenvolver glaucoma, especialmente o de ângulo aberto. Isso ocorre porque a anatomia dos olhos míopes — geralmente mais alongados — altera a estrutura do nervo óptico, tornando-o mais suscetível ao dano mesmo com pressões intraoculares normais. Além disso, o diagnóstico pode ser mais desafiador nesses casos, exigindo exames específicos e acompanhamento regular.
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Quais são os exames mais importantes que o oftalmologista usa para detectar o glaucoma e monitorar sua evolução ao longo do tempo?
Os principais exames incluem: tonometria (mede a pressão intraocular), gonioscopia (avalia o ângulo de drenagem do olho), campimetria visual (analisa o campo de visão), tomografia de coerência óptica – OCT (mede a espessura das fibras nervosas da retina), paquimetria (avalia a espessura da córnea) e retinografia. A combinação desses exames oferece uma visão detalhada da saúde ocular e da progressão da doença.
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O glaucoma pode provocar dor ocular ou outros sintomas físicos desconfortáveis em algum momento da doença?
Na maioria dos casos, especialmente no glaucoma de ângulo aberto, não há dor nem desconforto. No entanto, na forma de ângulo fechado, que é mais rara, o paciente pode experimentar uma crise aguda com dor intensa nos olhos, dor de cabeça, náuseas, vômitos e visão embaçada com halos ao redor das luzes. Essa situação é uma emergência médica e requer atendimento imediato.
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Uma pessoa que já fez cirurgia para correção de grau (como LASIK) corre risco de desenvolver glaucoma ou ter o diagnóstico prejudicado?
Sim, pessoas que realizaram cirurgia refrativa continuam sujeitas a desenvolver glaucoma. Além disso, esses procedimentos alteram a espessura da córnea, o que pode mascarar os valores reais da pressão intraocular nos exames, dificultando o diagnóstico. Por isso, é fundamental que esses pacientes informem o oftalmologista sobre a cirurgia e façam avaliações periódicas completas.